São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Bethânia estréia show com direção de Villela

Cantora promete fazer espetáculo como 'um recital'

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

Show: Maria Bethania
Direção: Gabriel Villela
Direção musical: Jaime Além
Figurinos: João Santaella Jr e Paulo Rogério de Oliveira
Iluminação: Maneco Quinderé
Onde: Canecão (av. Venceslau Brás, 215, Botafogo, zona sul do Rio - tel. 295-3044)
Quando: estréia quinta-feira, 24, às 21h30, e prossegue até 24 de abril, sempre de quinta a domingo
Quanto: ingressos a CR$ 10.000, CR$ 8.000 e CR$ 6.000

Na próxima quinta-feira, Maria Bethânia, 47, estará de volta ao seu santuário: o palco. Ela pode gravar discos, trabalhar no cinema, fazer televisão, desfilar pela Mangueira, almoçar com a rainha da Inglaterra e até viver momentos de emoção como a festa pelo centenário de Mãe Menininha do Gantois. Mas nada se compara ao palco: "É mesmo um lugar sagrado para mim."
Num show que ela define como "um recital" (quer dizer, sem grandes invenções formais, ao contrário do da amiga Gal), Bethânia vai intercalar canções de Roberto e Erasmo Carlos com clássicos e surpresas. Um espetáculo, segundo ela, tão pessoal quanto o último que fez, que comemorava seus 25 anos de carreira, estreado em 90 para uma carreira de três anos.
A simples perspectiva de subir ao palco de novo, de reencontrar seu público, de poder viver plenamente seu íntimo de intérprete única na música popular brasileira, deixa Bethânia feliz. "Meus shows são realmente muito pessoais. Neles, coloco muito de minha vida. Neste de agora, o clima tem muito de interiorano. De Santo Amaro, por exemplo. É um show sincero, mas com uma linha de delicadeza."
As lembranças da cantora são mesmo para a terra natal, onde, menina, descobriu o palco num araçazeiro: "Eu e Caetano brincávamos de teatro no quintal de casa. O palco dele era a mangueira, o meu era o araçazeiro. Às vezes representávamos o papel de faquir, que era subir na árvore e ficar imóvel, em silêncio, por longo tempo. Nessa coisa de teatro fomos muito incentivados por mamãe, que desde moça organizava teatrinhos com os meninos e meninas de nossa rua."
Ao contrário do irmão Caetano, que parecia mais interessado em outras artes (cinema, por exemplo), a menina Bethânia sempre soube que seu destino era este: "Eu tinha certeza de que iria parar no palco. Acho que, de todos de minha geração, eu era a mais atirada. Quando começamos, eu, Caetano, Gil, Gal, me lembro que era sempre eu que abria os shows."
Apaixonada por teatro, Bethânia chegou a pensar em ser atriz. Quem sabe fazer "A Casa de Bernardo Alba", de Garcia Lorca? Mas desistiu. A experiência lhe mostraria que sua questão com o palco é essencialmente musical. Tem plena consciência de que, de "Carcará" em 1965 aos dias de hoje, tornou-se uma intérprete cada vez melhor. Mais madura, com maior domínio de sua arte. Recorda o dia em que a convidaram para substituir Nara Leão em "Opinião": "Desliguei o telefone três vezes, pensando que fosse trote. Imagine, uma desconhecida lá da Bahia sendo chamada para estrelar show de Vianinha."
Hoje, já não se espanta quando a consideram a maior baladista da música brasileira, entendendo-se como balada toda canção romântica, carregada de emoção, eventualmente dramática e exigindo de quem a interpreta uma certa teatralidade: "Jamais cantei uma coisa em que não acreditasse", diz ela a propósito de seu público não duvidar de uma só palavra do que ela canta.
"Acho que os shows de boate foram importantes para estabelecer minha comunicação com o público. Aprendi muito com eles. As pessoas que vão ali estão querendo ser tocadas."
Essa capacidade de "tocar" as pessoas com seu canto Bethânia a exerce, hoje, diante de grandes platéias. Seja a do Canecão, seja a do Albert Hall, em Londres, onde ela estará em junho: "Vou lá pela primeira vez desde que Caetano estava exilado. Não gosto de Londres. É uma cidade triste. Talvez pela impressão daqueles tempos, Caetano infeliz, longe do Brasil."
Mas Bethânia confessa sua simpatia pela rainha, a quem conheceu no Brasil. Sente que, séculos atrás, talvez tenha tido alguma coisa a ver com reis, rainhas, cortes, coisas assim: "Além do mais, a rainha tem uns olhinhos muito azuis, como os de Nossa Senhora de Fátima".

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