São Paulo, terça-feira, 22 de março de 1994
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Manejo rústico garante alta produção

SEBASTIÃO NASCIMENTO
ENVIADO ESPECIAL A DESCALVADO

Resultado da fusão de seis fazendas, a Agrindus S/A , com seus 1.000 hectares em Descalvado (270 km a noroeste de São Paulo), foi a maior produtora de leite B no país em 91 e 92.
Hoje, a empresa ocupa o segundo lugar no ranking, com produção próxima a 16 mil litros/dia nos períodos de pico.
Mesmo perdendo a liderança, a Agrindus é uma das primeiras do país em produtividade.
Suas 520 vacas em lactação fornecem a média de 23 litros/dia: "No pico da safra, mantemos 650 vacas em lactação e a média atinge 27 litros", diz Fernando Sawaya Jank, diretor da empresa.
Num período de lactação (soma-se o que um animal fornece de leite no ano), a produção média das fêmeas da Agrindus varia entre 8 e 9 mil litros, marca bastante superior a média nacional (769 litros/vaca/ano) e superior até a produtividade norte-americana (6.642 litros).
Para chegar a este estágio não foi preciso investimento muito pesado. Nada é sofisticado na Agrindus. As instalações, que abrigam do bezerro à vaca adulta são simples, todas de campo e construídas em marcenaria da própria fazenda.
"É a nossa filosofia. Viver do negócio, o que torna fundamental o retorno dos investimentos", diz Fernando Jank.
Nada é comprado fora da porteira. Dos 1.000 alqueires da fazenda, 340 são ocupados com lavouras de soja, milho, capim e sorgo, entre outras culturas. Tudo para consumo do próprio gado.
Em 93, a produção agrícola da Agrindus alcançou 11 mil toneladas de silagem, 24 mil sacas de milho, 5.250 sacas de soja, 3,5 mil toneladas de capim napier e 120 toneladas de matéria seca de alfafa, entre outras culturas.
O manejo na fazenda é rústico e dividido em fases. Com apenas uma semana de vida, os bezerros são levados para o setor de criação. Lá, em bezerreiros individuais de madeira (para baixar os riscos de contaminação e afastar doenças comuns como a diarréia), eles permanecem por 90 dias, alimentados com leite, ração (3 quilos/dia) e feno de capim "rhodes".
No ano passado nasceram na Agrindus 670 bezerros entre machos e fêmeas, que têm destinos diferentes.
As fêmeas passam a ser especialmente manejadas a partir dos 90 dias de vida para a função de produtoras de leite e matrizes.
Já os machos, contrariando a regra da maioria das fazendas brasileiras, não são abatidos. Na Agrindus, eles são vendidos como tourinhos para reprodução antes de completarem um ano de vida.
A procura pelos machinhos cresceu e a comercialização transformou-se em fonte de receita importante para a fazenda. Em 93, pelo menos 200 deles foram vendidos pela média de US$ 500 cada.
Completados 90 dias de vida toda a bezerrada vai para cabanas maiores. Cerca de oito são abrigados em cada uma.
"Fica mais fácil controlar a anaplasmose (tristeza bovina), doença trazida por carrapatos e que leva os animais à inanição", afirma o técnico Antonio Mariano.
A doença é provocada nos bezerros pelo próprio Mariano, que neles inocula sangue de vacas adultas contaminadas por anaplasmose. Depois, o mal é combatido com terramicina. "Isso dá imunidade aos bichos, que crescem resistentes aos carrapatos".
Aos 16 meses, as novilhas são inseminadas. Desde 67, a inseminação artificial é usada na Agrindus e a partir de 80 passou a valer para todo o rebanho.
"Hoje não usamos touro sequer para repasse, ou seja, quando uma vaca tem problemas de fertilidade, ela é descartada".
A média de parição na Agrindus é de 27 meses. As vacas prenhas permanecem durante sete meses de gestação em sistema de pasto, comendo "colonião", "napier" e "coast cross". A dieta é reforçada com 3 quilos de ração diária.
Dois meses antes da parição, elas mudam de local e a atenção dos funcionários é redobrada. As vacas dão a luz no próprio pasto.

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