São Paulo, terça-feira, 22 de março de 1994
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Entrada da safra já reduz preço agrícola

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A entrada da safra já dá sinais de que deverá derrubar os preços: a cotação da soja caiu US$ 3 em Cascavel (PR) no último mês e o milho do Paraná é vendido abaixo do preço mínimo estabelecido pelo governo -CR$ 4.150 a saca de 60 quilos, contra CR$ 4.722. Além disso, os preços do arroz e do feijão já começaram a cair (veja texto abaixo).
Mas nos índices de inflação, essa tendência só deve começar a aparecer no início de abril, quando os grãos novos chegam aos consumidores finais.
Dúvidas sobre qual será o real tamanho da safra de 94 e incertezas quanto ao plano econômico estão atrasando o impacto da colheita na retração dos preços agrícolas. "Se o mercado tivesse clareza do volume recorde, já haveria maior impacto nos preços agrícolas", diz Juarez Rizzieri, responsável pelo IPC, o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Guilherme Dias, diretor-presidente da entidade, afirma que o mercado está aguardando para se certificar do volume da colheita. Ele critica o "excesso de otimismo" dos números da safra -a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) divulgou a previsão de 73,6 milhões de toneladas de grãos. "A previsão é grande mesmo com a quebra da safra de Irecê, na Bahia", diz.
O economista Fernando Homem de Mello, professor da Universidade de São Paulo e diretor da HM Consultoria, diz que se não fossem as recentes incertezas geradas pelo plano econômico, o consumidor já estaria sentindo a desaceleração dos preços agrícolas. Para ele, quando o mercado tiver certeza de que a safra será boa, os aumentos agrícolas serão menores do que a inflação, ao contrário do que foi verificado nas últimas semanas. "Na primeira semana de março, o acumulado dos preços agrícolas em 30 dias superou os 49%", diz o economista.
Com expectativa de queda de preço, as preocupações do setor referem-se ao sucesso do plano econômico e suas modificações no cenário agrícola. A primeira é a taxa de juros estipulada pelo governo.
"Em época de safra, os armazéns enchem e com juros altos não é aconselhável fazer estoques", diz Amilcar Gramacho, coordenador do departamento técnico da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Segundo ele, nesse quadro, a tendência é o agricultor vender logo seu produto, o que também deve contribuir para a queda de preços.
O segundo ponto de atenção é o eventual aumento de consumo. "Por enquanto, o recorde anunciado é de produção. Não é de panela cheia", diz Antônio Chedid, presidente da Bolsa de Cereais de São Paulo. Segundo ele, há possibilidade de aumento de consumo e, consequentemente, de necessidade de aumentar a importação agrícola.
"Deve haver espaço para aumento de consumo, como consequência das medidas econômicas", diz Sílvio Farnese, chefe da divisão de alimentos da Conab. Segundo ele, no ano passado, o consumo de milho foi de 31,5 milhões de t e para 94 a previsão é de 32,5 milhões de toneladas.
O terceiro ponto é o crédito rural. Gramacho lembra que os recursos até agora liberados não são suficientes para os agricultores.

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