São Paulo, terça-feira, 22 de março de 1994
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Entidades apontam participação de policiais

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os serviços secretos das Polícias Civis e Militares de São Paulo receberam várias denúncias de movimentos de direitos humanos, alguns deles ligados à Igreja Católica, de que policiais estariam envolvidos no tráfico de drogas, utilizando crianças –de acordo com as denúncias, seriam usadas com frequências meninas prostitutas e grávidas.Entre movimentos de direitos humanos, recolhem-se indícios de que meninos ou meninas mortas seriam consequência de queima de arquivo –ou seja, eles teriam revelados dados proibidos sobre o funcionamento do tráfico.A vinculação entre policiais e traficantes foi constatada por educadores de rua, ligados à Pastoral do Menor, da Igreja Católica –a revelação foi feita em confidência por meninas que servem como portadoras das drogas e, ma maioria das vezes, recebem seu pagamento em crack (droga à base de cocaína).A descoberta começou na praça da Sé (centro de São Paulo), onde educadores constararam o envolvimento das meninas e meninos no tráfico. Mas logo se viu que esse fenômeno era generalizado na região da Grande São Paulo.De acordo com as denúncias que estão nos arquivos das polícias Civil e Militar, os traficantes preferem usar meninas grávidas que, imaginam, seriam menos suspeitas. "Só que elas nunca testemunharão, pois têm medo de morrer", afirma Padre Júlio Lancelloti, da Pastoral do Menor.Existe, hoje, preocupação com a segurança dos educadores de rua, conhecidos pelos traficantes e policiais, ameaçados de morte. Está sendo preparada uma audiência entre esses educadores e o Conselho de Defesa da Pessoa Humana, onde eles dariam mais informações e se providenciariam medidas para sua segurança.O padre Júlio Lancelloti afirma que os traficantes estão articulados e, muitos deles, se sentem impunes. "Tenho informações de que os traficantes foram informados de que chegaram denúncias contra eles nos serviços reservados da polícia", afirma.A ofensiva envolve escala federal. A CPI da Prostituição Infantil recebeu a denúncia da Pastoral do Menor e, agora, junto com o relatório, vai encaminhá-la à Procuradoria Geral da República. Caso a Procuradoria entenda que os policiais de São Paulo não estão investigando como deveriam a questão, o assunto pode ser encaminhado à Polícia Federal.

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