São Paulo, terça-feira, 22 de março de 1994
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Preços tem reajuste em URV

MÁRCIA DE CHIARA; FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Se as listas de preços em Unidade Real de Valor (URV) fossem aceitas hoje como estão chegando nos supermercados, os consumidores teriam de pagar, em média, 15% a mais em valores reais pelos produtos industrializados e 25% para os hortifrútis em relação à primeira quinzena de março. A projeção é do vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados, Firmino Batista Rodrigues Alves. Ele leva em conta em seus cálculos apenas aplicação dos novos preços de uma maneira global, sem descontos, mais a margem do varejo.
"O preço pedido hoje pela indústria está maior em URV do que a média do último quadrimestre de 93", afirma Alves. Vander Luiz Vasconcelos, diretor da rede Paes Mendonça em São Paulo, confirma a alta. Ele informa que em alguns casos os aumentos estão entre 5% e 10% acima da média em URV de setembro a dezembro de 93. Essa prática é frequente no setor de higiene e limpeza, afirma.
"Os aumentos são absurdos", diz Martinho Paiva Moreira, gerente do supermercado D'Avó. Como suas lojas são informatizadas, ele comparou a média de preços do último quadrimeste de 93 com as novas listas. Moreira constatou que o preço pedido é 30% maior em URV no caso de alimentos industrializados. Outro absurdo, diz ele, é o preço pedido pelas vassouras, o dobro em URV do que na média do quadrimestre.
José João Armada Locoselli, presidente da Abipla, associação que reúne a indústria de higiene e limpeza, contesta o varejo. "Nosso preço em URV é a média praticada de setembro a dezembro de 93", afirma. Segundo ele, esse valor é igual em URV ao preço de fevereiro. "Estamos rigorosamente dentro do estipulado", acrescenta.
Boa parte das novas listas já estão em URV, informam os supermercadistas. A queda de braço entre o varejo e a indústria continua: poucos negócios foram fechados de sexta-feira até ontem. O alvo da discussão continua sendo o custo financeiro embutido no preço. O varejo diz que ele gira em torno de 48% e a indústria acha que é menor. A saída tem sido comprar só o necessário no atacado.
A briga é a mesma entre o atacado de hortifrútis e o varejo. Ontem, o primeiro dia de negociações em URV, o mercado esteve confuso, informa Tadashi Yamashita, presidente em exercício do sindicato dos atacadistas da Ceagesp. Houve empresas que acabaram devolvendo a mercadoria comprada em cruzeiros reais, cujo valor da nota fiscal foi convertido em URV.
As indústrias de eletrodomésticos e de eletrônicos devem entregar às lojas até o final desta semana a sua tabela de preços em URV. Boa parte das empresas do setor tomou como base a média dos últimos quatro meses de 93. Isso resultou num aumento real de preço da ordem de 3%, em média –em alguns casos de até 6%–, na comparação com fevereiro.
Lourival Kiçula, coordenador da área de eletrodomésticos da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), diz que as negociações com os fornecedores e clientes deverão se intensificar ao longo desta semana. Segundo ele, as revendas querem contratos com o novo indexador, prazo longo e não querem saber de juros. Os fornecedores também querem negociar em URV, mas não gostam de falar em descontos.
Ele explica que os produtos estão custando mais do que em fevereiro porque no primeiro bimestre do ano o consumo foi fraco e as empresas cortaram margens.
Gilberto Serrani, vice-presidente da Continental 2001, diz que a empresa ainda não montou sua tabela em URV. Para ele, é difícil praticar aumento real de preço neste momento. "Mas sentimos que esta é a tendência por parte dos nossos fornecedores de peças."
Michael Klein, diretor da Casas Bahia, avisa: "Não vamos aceitar aumentos reais de preços".

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sobre preços na pág. 2-3

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