São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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Explosão de ódio

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

É a escola Aqui Agora. Para enfrentar o mundo-cão do SBT, que apela para o suicídio, a Globo foi buscar um linchamento. Foi o grande assunto, do SP Já ao Jornal Nacional. Com imagens de impacto, como se diz. Corpos ensaguentados, um tiro, um assassino com marreta e tanto mais que antes era restrito ao Aqui Agora.
"Explosão de ódio e vingança no Paraná", anunciou Cid Moreira, na primeira manchete do JN. "Moradores invadem as celas e massacram os acusados de um assassinato." Um fato que não chega a ser novidade no Brasil, mas que ganhou prioridade pelas imagens. Não pelas cenas tomdas isoladamente, mas pela sequência, pela narrativa novelesca que começou bem antes e terminou um dia depois do linchamento.
Pela sequência. Os assassinos chegam à cela. Mil pessoas acompanham o enterro da enfermeira e depois se aglomeram na frente da delegacia. Um policial pede "calma", sobre o muro, e um senhor responde, "vocês gostam é de dinheiro". O líder, que seria parente da morta, salta o muro, força a porta e entra com a multidão.
Aí surgem as piores imagens. O grupo carregando contra a porta da cela, aos gritos. Depois um tiro. Os presos arrastados ao corredor para apanhar ainda mais, com chutes. A marreta. Os corpos ensanguentos.
Uma verdadeira novela, com mais três corpos no saldo da guerra de audiência.
Momento
Os ministros militares ficaram quietos por um dia inteiro, segunda-feira. Ontem o ministro da Marinha voltou à carga, no TJ e no Opinião Nacional.
"Eu não penso como o grupo Gararapes", disse Ivan Serpa, sobre o grupo de militares da reserva que pediu o fechamento do Congresso. "Não é o momento de fechar nada."
Depois, respondeu sobre a existência de "clima na tropa" para um golpe. "Se eu achasse que tivesse, eu teria feito duas coisas: prendido as pessoas que estivessem fazendo ou então me demitido de ministro."
Apesar da saudação do âncora Boris Casoy, que qualificou sua declaração de "corretíssima", o fato é que não ficou muito claro se haveria um "momento de fechar", afinal, na percepção do ministro.
Ainda mais quando ela aparece no dia de uma convocação do Alto Comando das Forças Armadas. Segundo o Jornal Bandeirantes, para uma reunião "de rotina", meramente.

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