São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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FHC discursa como candidato a empresários

Ministro da Fazenda defende redução do Estado na economia; presidente da CNI diz que foi fala de 'estadista'
Da Sucursal de BrasíliaA 11 dias do final do prazo de desincompatibilização, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, insiste em manter o mistério sobre sua possível candidatura a presidente da república, mas se comporta cada vez mais como candidato. Ontem, em reunião com cerca de 300 líderes empresariais, FHC fez um discurso de candidato.
O discurso do ministro, com promessa de redução da presença do Estado na economia, agradou aos empresários. Ao final da reunião, o senador Albano Franco (PSDB-SE), presidente da Confederação Nacional da Indústria, disse que "o ministro discursou como um estadista. Este discurso agradará plenamente o empresariado, caso seja apresentado por ele como candidato".
A fala de FHC teve momentos de retórica típica das campanhas eleitorais. Ele disse que tem percorrido o Brasil "desacompanhado" e frequentado até mesmo bares simples para ouvir "o rumor que vem do povo". Ele afirmou que a vontade da população muitas vezes "não tem nada a ver" com as articulações de Brasília.
O objetivo oficial da reunião era entregar ao governo uma carta com as revindicações dos empresários na revisão constitucional, mas a candidatura de Fernando Henrique foi assunto em todas as conversas. Cinco ministros participaram do encontro, mas só FHC foi saudado com aplausos pelos empresários.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Carlos Eduardo Moreira Ferreira, disse que o plano econômico não será prejudicado se Fernando Henrique deixar o ministério para assumir a candidatura. "O plano não é do ministro, é da sociedade. E a equipe econômica deve permanecer, mesmo que o ministro saia", disse.
Ele disse também que o apoio dos empresários à proposta de sua candidatura "é agradável", mas negou que isto vá influenciar sua decisão. "Minha candidatura precisa de voto popular", disse o ministro, que negou ter qualquer definição.
Itamar
Com um aperto de mão ao ministro da Fazenda, o presidente Itamar Franco deixou-se fotografar na noite de segunda-feira no Palácio do Planalto dando a entender que o gesto significava um afastamento de FHC do governo. "Isso aqui é uma despedida", disse Itamar sorrindo.
"Não sabia que ele (o presidente Itamar) estava me despedindo", respondeu, também sorridente, FHC ao ser indagado, ontem pela manhã, sobre o gesto e a fala do presidente Itamar Franco. O ministro continua dizendo que não tomou a decisão de ser ou não candidato à Presidência da República.
O gesto calculado do presidente é um indício de que FHC deve mesmo se desincompatibilizar do cargo até o próximo dia 2 de abril –provavelmente dia 28 ou 29 próximos. Os fotógrafos foram surpreendidos com a presença de Itamar em uma área que tinha sido reservada à imprensa. Itamar tinha ido até o elevador se despedir do vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore."Vocês ainda estão aí. Onde está o ministro Fernando Henrique", perguntou Itamar aos fotógrafos.
Um dos fotógrafos aproveitou a indagação para pedir a Itamar que pousasse para um foto junto com o FHC. Itamar chamou FHC, que estava em uma sala reservada, e posou para fotos. Itamar tomou a iniciativa de apertar a mão do ministro e acrescentou que era uma "despedida".

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