São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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Vasp deve US$ 75,6 milhões ao Banespa; sigilo pode ser quebrado

CLÁUDIA TREVISAN
EMANUEL NERI

CLÁUDIA TREVISAN; EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os deputados Luiz Gushiken e Luiz Azevedo, do PT, vão pedir hoje a quebra de sigilo bancário das operações financeiras entre o Banespa e a Vasp. A Folha apurou que a dívida da empresa com o banco oficial chega a US$ 75,6 milhões. O valor refere-se a empréstimos e garantias dados pelo banco depois da privatização da empresa, em 90. Alguns contratos foram assinados após a Vasp ficar inadimplente em outras operações com o próprio Banespa.
Os extratos de parte dessa dívida –US$ 36 milhões – serão enviados hoje ao delegado José Orsomarzo Neto, da Polícia Federal, encarregado do inquérito que apura supostas irregularidades na venda da empresa. A quebra do sigilo só pode ser determinada pelo Judiciário. Os deputados vão requerer ao Ministério Público de São Paulo a abertura de inquérito para apurar eventuais danos ao patrimônio público.
Em apenas cinco meses -dezembro de 91 a maio de 92- o Banespa emprestou ou deu garantias à Vasp no valor de US$ 80,6 milhões. A concentração de tantas operações de crédito em um único cliente é vista com estranheza no mercado financeiro. Principalmente porque, em 91, a Vasp tinha um prejuízo acumulado de US$ 452,6 milhões.
O Banespa alega que nem todos os contratos envolveram a liberação de dinheiro "novo" e seriam mera renegociação de dívidas vencidas. Além disso, afirma que está cobrando a dívida judicialmente. A Vasp reconhece que há uma dívida e diz que ela está sendo negociada.
Em dezembro de 91, renegociou empréstimo de US$ 18,2 milhões que não havia sido pago pela Vasp. Em janeiro de 92, deu garantia de US$ 7 milhões para um contrato de leasing. Em março, foi fiador de um empréstimo de US$ 13,7 milhões obtido no banco Noroeste, e renegociou outro débito da Vasp, de US$ 30,9 milhões. Em maio, a Vasp rolou outra dívida, de US$ 10,8 milhões. Quatro dias depois, deixou de pagar o empréstimo renegociado em dezembro. Aos poucos, ficou inadimplente em todas as operações.
O Banespa alega que renegociou a dívida para conseguir bens que garantissem o débito. Os contratos originais contavam apenas com o aval de Wagner Canhedo -maior acionista da empresa- e sua mulher. Na renegociação, a Vasp deu sete boeings como garantia.

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