São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994 |
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Dois tipos de receios retardam decisão de FHC
CLÓVIS ROSSI
Um é político: a resistência de setores do PSDB, maior e mais ruidosa do que o esperado, a uma aliança com o PFL. A outra é pessoal: a perspectiva de uma campanha marcada pelo "jogo sujo", como diz Ana Tavares, a assessora de imprensa do ministro. Já se comenta, a propósito, um suposto dossiê, com origem no quercismo. Os rumores sobre o dossiê são antigos, mas foram revigorados esta semana e chegaram a assustar a cúpula do PSDB, que suspeitou de sua iminente difusão. Ainda assim, essa dúvida de caráter pessoal está pesando menos, conforme a Folha apurou, do que a questão política. As reações explícitas de lideranças do PSDB ao eventual acordo com o PFL deixaram o ministro inseguro. Entre elas, as conversas dos deputados baianos Waldir Pires e Jutahy Magalhães Jr. com o PT, no sentido de apoiar Luiz Inácio Lula da Silva, se houver a coligação PSDB-PFL, e idêntica reação de parte de Wall Ferraz, principal liderança "tucana" no Piauí. Para fechar o círculo, o deputado federal Tuga Angerami (SP) fez uma espécie de comício em Brasília contra o acordo. Na avaliação de Sérgio Motta, o mais íntimo amigo de FHC e secretário-geral do PSDB, a reação dos peesedebistas é inteiramente infundada. "Juro que não houve qualquer conversa formal com o PFL", disse ontem à Folha. Se houve ou não, o fato é que a coligação PSDB-PFL parece agora estar inviabilizada, se for a seco. Trabalha-se no PSDB para diluí-la em uma coalizão mais ampla. Envolveria o PTB, cujo virtual candidato presidencial é o banqueiro e ex-ministro José Eduardo de Andrade Vieira, e o PP, dividido entre o ex-governador do Paraná Álvaro Dias e do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. Dias já fez o seu lance na direção do PSDB: aceita apoiar FHC, desde que o PSDB o apóie como candidato ao governo do Paraná. Essa hipótese abre outra frente de conflitos internos no PSDB, pois o senador José Richa rompeu com Álvaro Dias. Richa ajudou Dias a se eleger governador, em 1986, mas depois foi por este acusado de irregularidades. Além dessas dificuldades internas, há o fato de que o PP está sendo namorado também pelo prefeito paulistano, Paulo Maluf (PPR), que garante contar com o apoio de pelo menos dois candidatos do PP: o sindicalista Luiz Antônio de Medeiros (SP) e o jornalista Hélio Costa (MG). "Tudo isso dá insegurança", resume Sérgio Motta. Por isso mesmo, os próximos dois ou três dias serão utilizados para uma avaliação definitiva, seja para preparar a saída, com as consequentes explicações ao país de suas razões, seja para ficar e tratar, então, de uma candidatura alternativa do PSDB à Presidência. Texto Anterior: Congresso rejeita punição de quem deixar partido Próximo Texto: Maluf diz que pesquisa pesa contra candidatura Índice |
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