São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Bancos credores aceitam nova proposta de acordo

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O Comitê Assessor dos bancos credores da dívida externa brasileira anunciou ontem, em Nova York, que o Brasil conseguiu o consentimento dos credores para fechar um novo acordo para a dívida.
A renegociação envolve US$ 52 bilhões (US$ 35 bilhões só com os bancos privados) e deve ser concluída no próximo dia 15 de abril em Nova York.
William Rhodes, presidente do Comitê Assessor e chairman do Citibank, disse que a resposta dos credores foi de uma velocidade "sem precedentes". O Brasil precisava do "waiver" de 66% do total dos credores para concluir o acordo. O prazo expirava às 24 desta quinta- feira.
A necessidade do "waiver" surgiu quando o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, teve recusado o aval do FMI na semana passada em Washington. Mas os credores decidiram levar adiante as negociações desde que o país se comprometesse a apresentar garantias equivalentes a US$ 2,8 bilhões em títluos do governo americano (os cupons-zero). O Brasil aceitou e terá de fazê-lo no dia 15 de abril.
Rhodes, do Comitê Assessor, disse que pelo menos dois bancos brasileiros, credores da dívida brasileira, estiveram entre os que mais demoraram para dar o seu "waiver" ao Brasil.
Outra consequência da recusa do FMI é que o Brasil deixa de contar com cerca de US$ 1 bilhão de organismos financeiros internacionais, que seriam utilizados na compra dos cupons diretamente no Tesouro americano. O país teve que usar as suas reservas cambiais para comprar os cupons-zero no mercado financeiro, e acabou pagando mais caro pelos papéis.
O Brasil está gastando US$ 60 milhões a mais de suas reservas cambiais. A quantia equivale ao preço de 8.500 Unos Mille novos.
José Linaldo de Aguiar, chefe-adjunto do Departamento da Dívida Externa do Banco Central, que está em Nova York ajudando na finalização do acordo, disse à Folha que os gastos adicionais de reservas referem-se à comissão cobrada pelas corretoras na compra dos cupons-zero. Aguiar disse não saber o valor exato do desembolso adicional, mas as corretoras estimam em cerca de US$ 60 milhões.
"Todo o mercado acreditava que o Brasil teria o aval do FMI e compraria no Tesouro os cupons-zero", disse Paul Masco, da corretora Merrill Lynch, uma das mais ativas no mercado de cupons-zero. Aguiar, do BC, disse não ter informações para assegurar se o país já comprou todas as garantias que precisa.
FHC e o presidente do Banco Central, Pedro Malan, serão questionados hoje pelo plenário da comissão de assuntos econômicos do Senado sobre a mudança nas condições do acordo da dívida. Segundo nota elaborada em reunião dos senadores, "aparentemente o acordo está em vias de entrar em vigor em um contexto diferente daquele que foi autorizado pelo Senado Federal".

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