São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Itamar diz que temeu pelo 'imponderável'

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião com líderes políticos e com o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, o presidente Itamar Franco expôs, com ar grave, os motivos que o levaram a reagir contra o aumento salarial que se autoconcenderam o Congresso e o Judiciário. Ele disse que adotou posição firme para evitar o "imponderável".
Itamar mencionou basicamente duas razões: a defesa do plano econômico e a insatisfação dos militares. No instante em que falou dos militares, o presidente foi bastante objetivo, excessivamente transparente.
Disse que não saberia precisar o que poderia ter acontecido no sábado se, na sexta-feira, não tivesse reunido os ministros militares e divulgado a nota de repúdio do governo ao aumento salarial do Legislativo e Judiciário.
Itamar disse mais: não admite solução "extraconstitucional" para o impasse que separa os três Poderes. Novamente foi claro: "Prefiro deixar o cargo a aceitar qualquer solução que não esteja prevista na Constituição".
A Folha confirmou o conteúdo das declarações do presidente com quatro das pessoas que participaram do encontro de ontem, ocorrido no Palácio do Planalto, no início da noite. O presidente só falou no final. Primeiro deixou que todos os líderes políticos e o ministro da Fazenda falassem.
Na sua exposição, Itamar disse ter recebido, na sexta-feira da semana passada, informações sobre "forte insatisfação" das Forças Armadas. Declarou também que, na mesma sexta-feira, os ministros militares lhe pediram uma audiência. Atendeu-os prontamente. Chamou para a conversa alguns ministros civis, entre eles Henrique Hargreaves (Gabinete Civil).
No encontro, os ministros fardados confirmaram ao presidente que, de fato, os quartéis estavam descontentes com a operação de conversão dos salários do Congresso e do Judiciário à URV, que resultou num aumento de 10,94%.
Segundo Itamar, seus ministros reclamaram da diferença de tratamento em relação ao Executivo. Mencionaram o fato de que, há tempos, enfrentam sacrifícios na área salarial. Disseram ainda que seria difícil explicar o fato à tropa.
Foi então que Itamar decidiu divulgar a nota que gerou toda a crise com o Congresso e, principalmente, com o Judiciário. O presidente, de resto, afirmou aos líderes que, se concordasse com o aumento salarial dos outros dois Poderes, estaria decretando a morte do plano econômico do ministro Fernando Henrique, o que geraria "uma crise muito maior".
A despesa adicional com salários, segundo revelou, consumiria toda a arrecadação adicional que o governo espera obter com o plano.
Antes do presidente, também Fernando Henrique havia deixado claro que o aumento salarial de 10,94% liquidaria com o seu plano. Mencionou que o reajuste geraria um efeito em cascata no serviço público. Todos os funcionários não-beneficiados reivindicariam na Justiça a igualdade de tratamento.
Os líderes saíram do encontro impressionados com o relato do presidente. Na sequência, FHC teve uma conversa privada com Itamar. Expôs a ele os detalhes da proposta que havia negociado com o Congresso e o STF e negou que tivesse concluído o acordo. Itamar tinha sido informado de que FHC praticamente fechara o acordo.

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