São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Doença é de país desenvolvido, diz especialista

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O mastologista Antonio Franco Montoro diz que a conclusão do Instituto Nacional do Câncer dos EUA sobre rastreamentos em massa já é conhecida dos médicos da área desde março de 1993, pelo menos, quando foi divulgada em um congresso realizado em Paris (França).
Segundo o presidente da Fundação Oncocentro, que realiza de 10 a 15 mamografias por dia, ela não se aplica ao Brasil –"que não tem nem pode ter" um programa de massa. A Holanda, que depois dos EUA e Canadá tem um das incidências de câncer de mama mais altas do mundo, usou o exame em todas as mulheres entre 50 e 70 anos e conseguiu reduzir em 30% a mortalidade.
Segundo Montoro, que é irmão do ex-governador paulista André Franco Montoro, câncer de mama é doença de país desenvolvido, enquanto câncer de colo do útero é doença de pobre. "Tem mais câncer de mama no Morumbi do que na Vila Mangalô." É uma questão de "estilo de vida", segundo José Aristodemo Pinotti: os fatores de risco são ter menos filhos e em idade mais avançada, não amamentar, obesidade, vida urbana.
O ginecologista Pinotti, que foi secretário estadual de Saúde no governo Orestes Quércia (PMDB), estima que o chamado risco de toda a vida ("lifetime risk", a chance de uma mulher ter um tumor no seio se viver até os 85 anos) no país deve estar na casa de 1 para 20, quando nos EUA é de 1 para 9.
Mas os tumores geralmente só são constatados nas mulheres brasileiras quando já têm 5 cm de diâmetro (estágio clínico 3), o que exige a retirada completa da mama (veja quadro acima). Com a mamografia, consegue-se detectar tumores com menos de 1 cm (estágio clínico 1) ou até mesmo seus precursores, as chamadas microcalcificações agrupadas (fase pré-clínica). Nestes dois casos, a cirurgia seguida de quimioterapia obtém "cura" em praticamente 100% dos casos (não-reincidência no prazo de dez anos).
Segundo Pinotti, para fazer diagnósticos mais precoces e diminuir os óbitos no Brasil não é preciso nem recorrer à mamografia em massa. Bastaria, diz ele, usar as mãos dos médicos, enfermeiras e das próprias pacientes com mais assiduidade e eficiência.
O ginecologista lamenta que não exista um programa específico para combater essa doença "altamente prioritária" e cita o exemplo da morte materna (antes, durante ou logo depois do parto), que mata cinco vezes menos mulheres no Estado de São Paulo e tem um programa preventivo próprio. O câncer de mama representa quase um quinto dos cânceres desenvolvidos por mulheres. (ML)

Com agências internacionais

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