São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Indústria espera consumo maior em abril

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria aposta no crescimento do consumo a partir da segunda quinzena de abril. A maior aceitação dos cartões de crédito pelas lojas e a ampliação do crediário levam empresários a programarem aumento de produção para atender à nova demanda –especialmente por bens de consumo.
"Assim que o trabalhador se der conta de que o seu salário será corrigido diariamente vai voltar a gastar", diz Mário Bernardini, diretor do departamento de economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). "As condições são bem propícias."
Um grande grupo que faz eletrodomésticos no país trabalha com a estimativa de que o consumo cresça entre 20% e 25% a partir de maio. Por isso, já está ajustando as suas fábricas para aumentar a produção entre 15% e 20%.
Para a diretoria da Continental 2001, que também fabrica eletrodomésticos, a demanda já dá sinais de recuperação a partir da segunda quinzena de abril. "O incentivo ao uso do cartão de crédito e do crediário tem um efeito forte sobre o nosso setor", afirma Gilberto Serrani, vice-presidente. Também pensa assim a diretoria da Brastemp, do grupo Brasmotor.
O aumento na produção, no entanto, dizem os empresários do setor, vai, num primeiro momento, reduzir a capacidade ociosa das fábricas –estimada em 35%, em média. "É claro que o governo não seria ingênuo de provocar uma explosão de consumo."
A diretoria da Enxuta, cautelosa, vai esperar os pedidos dos clientes para aumentar o ritmo de produção das fábricas. "Mas não há dúvida que estamos preparados para isso", diz Lino Rech, diretor administrativo financeiro.
Segundo ele, a empresa trabalha com ociosidade de 45% e tem flexibilidade para fabricar mais rapidamente. No ano passado, ela produziu 100 mil lavadoras de roupas. Em 1989, chegou a fabricar quase o dobro –170 mil unidades.
Para Eugênio Staub, diretor presidente da Gradiente, a sua empresa deve faturar 20% mais este ano, na comparação com 93. Segundo ele, isso é resultado da entrada da Gradiente em novos produtos –como telefonia celular– e também do crescimento da economia.
"Mas é um grande equívoco achar que pode haver explosão de demanda no Brasil. Antes que o consumo cresça é preciso que o plano do ministro Fernando Henrique emplaque, que as taxas de juros caiam e que haja recursos para financiamentos."
Carlos Alberto Cardoso, gerente geral de produtos eletrônicos da Philips, diz que a empresa prevê aumento de vendas de 10% neste ano, na comparação com 93. Mas, segundo ele, a principal razão desse crescimento é a Copa do Mundo, que puxa para cima as vendas de TVs e videocassetes.
Para ele, a Copa do Mundo, o incentivo ao crediário e ao uso do cartão de crédito farão com que a Philips aumente a sua participação no mercado de televisores em cores de 24% para 27%. Em 93, este mercado foi de 3,3 milhões de unidades. Segundo ele, neste mês, as vendas continuam prejudicadas por causa da adaptação à URV nas negociações de compra e venda.
Outro setor que espera resposta rápida da demanda daqui para frente é o têxtil. Jacks Rabinovich, diretor do grupo Vicunha, acha que a partir de abril a empresa vai poder comercializar o volume que produzir. No início deste ano, conta ele, as vendas da empresa caíram. "Com a nova moeda o consumidor vai ter condição de comparar preços e ter mais confiança para gastar."
Ele conta que no início da década de 80 o consumo de fibras têxteis no Brasil era da ordem de sete quilos por habitante por ano. No ano passado, este número não chegou a seis quilos. "Esperamos que a partir de agora, aos poucos, haja recuperação."
Marcos Santin, diretor de economia da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário), diz que antes do anúncio do plano de estabilização da economia, os empresários do setor previam produção da ordem de 3 bilhões de peças para este ano. "Agora nós refizemos as contas e achamos que a produção pode chegar a 3,2 bilhões de peças, no mínimo, este ano."

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