São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Seleção faz pacto contra as brigas

MÁRIO MAGALHÃES; FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

FÁBIO GUIBU
Os jogadores da seleção brasileira fizeram um pacto para evitar que brigas internas levem ao fracasso na Copa do Mundo dos EUA. Eles temem que as polêmicas provocadas pelo atacante Romário dividam a equipe como no Mundial de 90, disputado na Itália.
Os atletas mais experientes "catequizam" os mais novos. O zagueiro Ricardo Rocha, 31, dividiu quarto em Recife (PE) com o atacante Ronaldo, 17.
"Ricardo me disse várias vezes para não falar mal de companheiros", contou Ronaldo. "Aconselhou-me a não entrar em polêmicas, a ser humilde e a não ter ataques de estrelismo, porque isso pode prejudicar a seleção. Eu fico na minha."
Um dos convocados para o jogo de ontem contra a Argentina disse à Folha que a ausência de Romário causou indignação. Dois jogadores contundidos, o zagueiro Ricardo Gomes (radicado na França) e o volante Mauro Silva (radicado na Espanha), viajaram para o Brasil, apesar de contusões. Fizeram tratamento para poder jogar.
Na opinião de muitos jogadores, Romário não veio da Espanha para Recife porque não quis. Com uma contusão sem gravidade no joelho, o atacante foi cortado, mas deve jogar no próximo fim-de-semana pelo Barcelona, seu time.
O técnico Parreira pediu anteontem, em reunião com a equipe, para ninguém deixar o Brasil "perder a Copa fora de campo", em disputas entre os atletas.
O time sabe que Romário tem presença assegurada nos EUA. Mas tenta prevenir-se contra o "vírus" da divisão.
Uma das regras definidas por eles é evitar polêmicas com Romário. Nos três dias em Recife, quase todos os jogadores passaram o tempo conversando em seus quartos no hotel, para evitar perguntas sobre o atacante.
Romário não tem nenhum amigo na seleção. Defendeu publicamente a escalação de seu amigo Edmundo, que se recupera de contusão.
Até Bebeto, que posou para fotos durante uma semana ao lado de Romário, no ano passado, reclama nos bastidores: "No jogo da classificação para a Copa, contra o Uruguai, dei um monte de bolas para ele. No primeiro tempo, o baixinho não me passou bola alguma. Assim não dá".
Mesmo morando no mesmo país, os dois só se falam na seleção. Bebeto evita telefonar para Romário, que faz o mesmo.
O atacante Muller, criticado publicamente por Romário, o detesta desde o Mundial de 90, quando o substituiu por lesão. Mas não ataca o desafeto publicamente, seguindo à risca o acordo entre os jogadores. "O que acho das declarações de Romário? Não tenho de achar nada, pergunta para ele."
A maior preocupação da equipe é que, se a seleção chegar à final da Copa, ficará concentrada durante dois meses –17 de maio a 17 de julho–, obedecendo a uma rígida cartilha disciplinar. Todos temem que Romário não suporte tanto tempo recluso.
Em 90, ele dizia a amigos que o visitavam na concentração: "Esse Muller só está jogando porque estou me recuperando da fratura. Se eu estivesse inteiro, ele seria banco e olhe lá".

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Sobre a Copa do Mundo na pág. 3

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