São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Fria, mas bem gostosa

CARLOS SARLI

Para os leitores que não sabem, meu apelido é Califa –"nickname" também usado pelos brasileiros para se referir à Califórnia, Estado de maior influência da América. Hollywood explica. Na real, minha intimidade com o lugar se resume ao apelido. Esta é minha segunda vez por aqui e só com a ajuda dos amigos vou conseguindo me localizar.
Estava na casa do Aaron Chang, em San Diego, no sábado à noite, quando Taylor Knox, 22, 24º no ranking da primeira divisão do surfe mundial, ligou. "As ondas estão boas, quatro a seis pés, vento terral, sol perfeito para fazer umas fotos", instigou ele.
Acordamos às 6h, com um céu azul que garantiu sol o dia todo. Para surpresa de Aaron e maior ainda minha, seu velho Nissan –que dorme na rua– tinha sido roubado. Ele não se abalou. Acordou Erika, sua mulher, pediu que ligasse para a polícia e saímos no Pontiac conversível ano 65. Mesmo desligado há alguns meses, após duas tentativas, o V-8 estava funcionando.
Freeway 5 direção norte, uma parada no estúdio para pegar o equipamento fotográfico e estávamos, no horário combinado, no pier de Oceanside, encontrando Taylor. De dentro de sua Toyota Van novinha em folha –com telefone celular e o escambau–, fez um comentário eufórico sobre o conversível e sugeriu que fôssemos checar um outro pico.
D.M.J. –Del Mar Jetty– é a maior base da marinha norte-americana, com algumas milhas de frente para o mar. A base é aberta ao público, mas com restrições. Paramos no "check point" e pedimos permissão para surfar. O guarda, de luvas e quepe branco, impecavelmente fardado, liberou.
Paramos em frente a um dos inúmeros picos. Olhamos por alguns minutos e, quando já estávamos voltando para o carro e para Oceanside, uma série com uns cinco pés, abrindo para os dois lados, nos obrigou a entrar.
Havia um pequeno "crowd", em sua maioria formado por militares. Taylor entrou e foi logo detonando. De tempos em tempos, dava uma saída e conversava com o fotógrafo, que, como um técnico, sugeria como as manobras deveriam rolar.
Enquanto isso, eu –estranhando um pouco a água fria apesar da roupa de borracha completa– me divertia nas ondinhas e mais ainda com toda a vibe. Nada de especial para um californiano. Para mim, tudo novidade. Um dia de surfe na Califa.

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