São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Ópera de Lyon estréia coreografia americana

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LYON

Na França, enquanto as emissoras de rádio são obrigadas a dedicar a maior parte da programação às músicas francesas, a dança promove uma abertura inédita. Pela primeira vez, três coreógrafos norte-americanos integram o programa de uma companhia de balé.
Na noite de terça-feira, um dos grupos mais prestigiados da França, o Ballet da Ópera de Lyon, estreou "An American Evening", espetáculo que reuniu obras de Bill T. Jones, Stephen Petronio e Susan Marshall. A idéia foi do atual diretor do Ballet de Lyon, Yorgos Loukos, que pretende mostrar aos franceses as diferentes expressões da chamada new dance americana.
A predominância de americanos também pode ser sintoma da era pós Jack Lang, o ministro da cultura que mais financiou a dança, proporcionando o aparecimento de inúmeros novos coreógrafos. Depois de um "boom" nos anos 80, a dança francesa entra nos 90 em busca de novas propostas.
Intercâmbio
A solução pode ser o intercâmbio com os americanos que, ao contrário dos franceses, deixaram de ser prioridade na lista de patrocínios do governo, tornando-se quase marginais. Hoje, essa marginalidade, somada a um comportamento provocativo, parece ser uma fonte de estímulos para quem, até então, trabalhou cercado de facilidades.
Dependendo do sucesso na atual temporada, "An American Evening" pode ser apresentado na turnê que o Ballet da Ópera de Lyon deve realizar no Brasil em 1995. Se isso ocorrer, é bom torcer para que Bill T. Jones participe do espetáculo, como ocorreu na estréia em Lyon.
Contrariando uma característica da dança moderna –a ausência do bailarino-estrela–, Bill T. Jones deve marcar os anos 90 como uma personalidade emblemática. Além da militância em favor das minorias depois que descobriu ser portador do vírus HIV, Jones assume status não só como um dos melhores criadores da dança contemporânea, como também de uma figura cênica cujo carisma lembra os tempos em que as platéias se eletrizavam perante nomes como Nureyev.
Estreando também como o novo coreógrafo residente do Ballet da Ópera de Lyon, Bill T. Jones foi ovacionado depois de interpretar, em meio a um elenco de solistas, a coreogrfia "I Want to Cross Over". Para esquentar mais ainda o espetáculo, a peça incluiu números de gospel ao vivo, cantados pela norte-americana Liz McComb.
McComb tem tonalidades vocais que chegam a lembrar Janis Joplin. Junto com Bill T. Jones, roubou a cena. Os bailarinos do Lyon, com excepcional treinamento em dança clássica, ainda estão pouco à vontade com seus novos parceiros. Dançando também "ExtraVenous", de Stephen Petronio, e "Central Figure", de Susan Marshall, mostraram que estes coreógrafos ainda são melhor traduzidos pelos elencos instáveis dos guetos nova-iorquinos.

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