São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Abbey Lincoln canta no Brasil no final do ano

ANDRÉ LAHÓZ MENDONÇA DE BARROS
DE PARIS

Abbey Lincoln é uma das mais importantes cantoras de jazz vivas da atualidade. Em turnê pela Europa, tocou essa segunda-feira em Paris, acompanhada por Rodney Kendrick no piano, Michael Bowie no baixo e Alvester Garnett na bateria. Pouco antes do show, a cantora nascida em Chicago em 1930 concedeu uma entrevista exclusiva à Folha, na qual comenta sua ligação com o jazz, sua vinda a São Paulo e ao Rio no fim do ano e seu novo disco "When there is love", em parceria com Hank Jones, a ser lançado em abril no Brasil pela Polygram.
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Folha - Nós, brasileiros, não conhecemos seu último disco.
Abbey - É um duo com Hank Jones. Normalmente eu não canto músicas de amor, então esse disco é só sobre isso.
Folha - Mas os jovens continuam gostando do jazz tradicional, que você ainda faz?
Abbey - Alguns deles são grandes músicos. São eles que mantém a música, pois o jazz é uma música de homens. Não ouço muito cantoras jovens. Acho que a forma é difícil para elas entenderem, e muitas se perdem por dinheiro. Mas já está gravado, Duke Ellington, Louis Armstrong, Sarah Vaughan e Billie Holiday fizeram essa música, e é para sempre. As jovens que façam o que queiram.
Folha - Falando sobre Billie Holiday, o que acha das comparações feitas entre vocês?
Abbey - Sou sua seguidora, assim como ela também foi de Bessie Smith. Billie escrevia suas músicas quando as pessoas estavam sendo linchadas no sul dos EUA. E Bessie Smith também era assim, ela cantava "Black Mountain Blues" há 60 anos atrás. Para mim isso é música. Louis Armstrong, Thelonius Monk, Duke Ellington, se referindo ao fim da escravidão, Coltrane, com "Africa". Portanto, a música sempre teve um papel social.
Folha - E cinema? Pretende voltar a participar de filmes?
Abbey - Já participei de alguns filmes, mas nunca me vi como uma atriz. Incidentalmente me envolvi com "Mais e Melhores Blues". Fico feliz de ter sido lembrada por Spike (Lee, diretor do filme), mas talvez ele pudesse ter feito melhor uso de meus talentos.
Folha - O que está preparando para o concerto de comemoração dos 50 anos da Verve?
Abbey - Cantarei uma música em homenagem a Billie Holiday. Vamos lembrar as grandes cantoras que vieram antes de nós. Será no Carnegie Hall, no dia seis de abril. Muitos artistas estarão, lá como Hank Jones...
Folha - Tom Jobim...
Abbey - É mesmo? Ótimo! Eu adoraria cantar com ele. Estive uma vez no Brasil, há muito tempo, no Copacabana Palace, era um show à meia-noite, mas não era o meu ambiente, era muito jovem e estava sozinha. Agora devo voltar esse ano para fazer dois shows. Dessa vez quero levar a minha banda e realmente ter a oportunidade de ver o Rio e SP.

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