São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
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Governo barra votação da MP que criou URV

FERNANDO GODINHO; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo conseguiu ontem impedir a votação da MP da URV (nº 434), esvaziando a sessão do Congresso marcada exclusivamente para a apreciação da MP. Esta é a medida que estabelece os critérios de conversão dos salários –motivo da atual crise entre os Poderes.
A sessão foi tumultuada e os deputados José Cicote (PT-SP), Paulo Paim (PT-RS) e Luiz Carlos Hauly (PP-PR) trocaram empurrões, chutes e agressões verbais.
Vice-líder do governo na Câmara, Hauly queria suspender a sessão alegando que não havia o quórum mínimo (84 deputados e 14 senadores) para discutir a MP. Ele insistia na verificação de quórum quando foi interpelado pelo deputado Paulo Paim, favorável à votação da MP.
"Para com isso. Você está dando uma de bobo do governo", disse Paim, com o dedo apontado para a cara de Hauly. "Bobo é você", respondeu Hauly, que ameaçou bater em Paim.
O petista recuou e foi socorrido pelo colega José Cicote, que deu um forte empurrão em Luiz Carlos Hauly e tentou socá-lo nas costas. Hauly ainda chutou a perna de Paim. A confusão terminou rapidamente, com a intervenção de outros parlamentares.
A sessão prosseguiu tensa e, para evitar a votação da MP, o governo conseguiu que 18 parlamentares de partidos aliados se inscrevessem para falar, cada um com direito a 20 minutos. Os discursos se sucederam até por volta das 14h, quando já estava marcada uma sessão do Congresso revisor.
Pelo regimento interno do Congresso, uma sessão não pode se prolongar caso não tenha começado a votação da ordem do dia. Com este recurso regimental, o governo conseguiu evitar a votação da MP e do relatório preparado pelo deputado Gonzaga Mota (PMDB-CE), que alterava pontos fundamentais do programa de estabilização econômica. Os partidos de oposição tentaram votar um requerimento para estender a sessão, mas não houve quórum suficiente.
FHC
O ministro Fernando Henrique Cardoso chegou ontem às 9h30 ao Congresso com um recado claro aos parlamentares: o governo vetaria as alterações propostas pelo parecer do relator Gonzaga Motta (PMDB-CE) à medida provisória 434, que criou a URV. "O parecer provoca aumentos enormes, de salários não, mas de rombos no orçamento", atacou FHC.
Antes de chegar ao Congresso, ainda em frente ao prédio onde mora, FHC argumentou que a MP não deveria ser votada devido ao "clima" político do momento.
Falando na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado sobre o acordo da dívida externa, FHC se irritou quando foi perguntado sobre a proposta de elevação do salário mínimo a US$ 79, feita pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). "O ministro da Fazenda acha o salário mínimo de US$ 64 uma infâmia, acha US$ 100 ridículo e por ele daria US$ 500. Mas é impossível", disse.
Para defender o valor do salário mínimo, FHC fez uma autocrítica sobre sua atuação como senador. "Já votei muito salário mínimo aqui nesse Congresso. Tudo falso! Tudo falso! Os aumentos que achávamos que estávamos dando eram, na verdade, mais inflação para corroer os salários."

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