São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
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Granato explora vida inesgotável da pintura

CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

O artista plástico Ivald Granato abre hoje sua exposição "Dorsaymomaqui" na Galeria Nara Roesler. A mostra, com a obra "Leilão do Granato", comenta o mercado e a história da arte, referindo-se, no título, ao Museu D'Orsay em Paris, e ao MoMa de Nova York. Em entrevista à Folha, o artista fala de sua obra e trajetória.
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Folha - O que você está apresentando nesta exposição?
Ivald Granato - As idéias você pode ver aqui, mas uma proposta com conceito fixo não tem sentido, é muito arcaica hoje. Já não me meto nessas discussões. "Dorsaymomaqui" fala da vida inesgotável da pintura.
Folha - O que você acha da condição atual da pintura?
Granato - A pintura vai bem, obrigado. A "morte da pintura" vem de gente que não gosta de pintura. São filósofos que não têm nada a ver com a coisa. A pintura não é só um desejo de experimentar, não é experimentação eterna. Ela quer ser amada e é exigente.
Folha - Como você defende a pintura?
Granato - Eu não defendo, eu me apaixonei. Ela é fundamental para esse espaço do viver. Muitas pessoas falam mal dela para se afirmarem. Os movimentos de vanguarda, o dadaísmo, por exemplo, era ligado ao descontentamento da guerra. Pensavam a arte como uma arma.
Folha - O que o impulsiona a trabalhar?
Granato - No início era o desejo de me expressar. Agora são as regalias, o ateliê, as telas, as tintas, é como um palco com luzes, guitarras, som, que você chega e se sente impelido a cantar. Não posso chegar lá e ficar pensando em filosofia, montei um circo para ficar dentro.
Folha - Fazendo um retrospecto, como você vê sua trajetória, de uma arte mais politizada, das performances, até hoje?
Granato - Tive momentos no meu trabalho que fazem parte da juventude. Fiz trabalhos de "mail art", conceituais, happenings, anárquicos. Agora olho mais para o meu próprio desenvolvimento do que para propostas externas. Antes eu queria "fazer arte", mais do que ver o meu processo de cultura.
Folha - Como responderia às críticas de que você se comercializou, perdeu a energia contestadora que sua obra tinha?
Granato - Isso são fragmentos de algumas pessoas que não conhecem nada de arte, trabalham na função de escrever e acham que podem dizer isso. Trabalhei tanto para ter que voltar ao começo, sem poder vender? Agora vivo da arte e vou voltar a ser adolescente para ser rebelde?

Exposição: Dorsaymomaqui
Artista: Ivald Granato
Quando: Abertura hoje, 12h; até 20 de abril, de segunda a sexta, das 10h às 20h, sábados, das 10h às 14h
Onde: Galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, Jardim Europa, tel. 853-2123).

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