São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
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Morrisey confirma superioridade como poeta em "Vauxhall and I"

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Morrisey confirma superioridade como poeta em "Vauxhall and I"
Ele voltou! Ao topo. Morrisey, a diva do pop britânico nos 80, destila 11 baladas em seu melhor estilo auto-indulgente, desesperado, poético, no novo disco "Vauxhall and I". São músicas quase uniformes em tamanho e nos arranjos suaves. Bem diferente do rock adrenalina dos 90. O próprio Morrisey reconhece, com a modéstia habitual, que no pop não há poeta como ele.
Balzaco já, faz 35 anos em maio, Morrisey apareceu em Londres na semana passada para divulgar o disco. Numa sessão de autógrafos na megaloja HMV, a legião de fãs (maioria teens) formou uma fila que saía para a rua e dava a volta no quarteirão. Com o topete bem mais baixo e mais gordo, foi um ritual bem inglês de apertos de mão, autógrafos, fotos. Formal e ordeiro, apesar de a multidão e o mito estarem frente a frente. Bem inglês, como Morrisey, que trocou a cinzenta ilha pela ensolarada Califórnia, mas deixou mais do que um pé na Inglaterra, como sugere o título do álbum -Vauxhall é uma rua da região central de Londres.
O disco começa com "Now My Heart is Full", onde Morrisey vai logo dizendo que não tem muitos amigos (apesar dos fãs que já colocaram "Vauxhall and I" no topo das paradas).
"Why Don't You Find Out for Yourself", a sexta faixa, abre com a frase "os dias mais sãos são loucos", ao som de um violão folk, embora Morrisey odiasse ser tachado de folk quando liderava com o refinado guitarrista Johnny Marr (de 1983 a 1987) uma das maiores bandas da década: The Smiths.
Foi de Marr a decisão de acabar a banda. Estava muito difícil aguentar o humor de Morrisey e a desorganização do grupo. Os dois brigaram, como Morrisey brigou também com boa parte da mídia inglesa e políticos. A primeira-ministra Margaret Thatcher era um de seus alvos preferidos. A obra-prima dos Smiths, "The Queen is Dead", era para se chamar "Margaret on a Guillotine".
Nascido na industrial Manchester, no norte da Inglaterra, de pais irlandeses católicos, Morrisey passou boa parte da infância trancado no quarto -Manchester é a cidade mais chuvosa do país-, se olhando no espelho, lendo poesia, ouvindo Marc Bolan e depois David Bowie. Deu no que deu.
Ele disse esta semana à revista pop "Q" que está milionário, mas não consegue agir nos conformes, frequentando o underground de Los Angeles e usando roupas de simples mortais junto com seu motorista faz-tudo Jake. A "consciência proletária" aparece no sarcasmo da faixa "The Lazy Sunbathers", onde os bem de vida tomam sol enquanto o mundo explode ao redor.
Mas a mais poderosa canção do disco é a trágica parábola "Lifeguard Sleeping, Girl Drowning" (ver letra abaixo).
Morrisey disse que "Vauxhall and I" é seu melhor trabalho. Obrigação de marketing? Talvez não. O "filho e herdeiro de nada em particular" prova que rock e poesia ainda dão samba, apesar da gritaria.

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