São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Real vem só depois de maio, afirma Malan

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O cruzeiro real será substituído pelo real em algum dia 1º, mas somente a partir de junho. Maio está descartado, disse o presidente do Banco Central, Pedro Malan.
Ele acrescentou que a decisão sobre a data da troca da moeda depende da adesão da sociedade à URV (Unidade Real de Valor), do avanço da revisão constitucional e da assinatura do acordo da dívida externa com os bancos credores, prevista para 15 de abril.
O secretário do Tesouro do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, afastou totalmente o 1º de maio como o dia D da troca de padrão monetário. Ele lembrou que o Tesouro estará leiloando aos bancos, segunda-feira, um lote de US$ 2 bilhões em LTNs (Letras do Tesouro Nacional, papéis prefixados que servem para financiar o governo) com prazo de 35 dias.
"O mercado comprará esse papel", disse Portugal. "A decisão de divulgar a data do real 35 dias antes acalmou o mercado." O governo está encontrando dificuldades para vender seus papéis por causa da indefinição sobre a data de mudança da moeda.
Há, na economia, uma sobra de US$ 3,5 bilhões em dinheiro. Representa aquela parcela de recursos que estava aplicada em títulos federais e que não foi renovada.
Malan, que participou ontem de almoço da Adeval (Associação das Distribuidoras de Valores), rejeitou as apostas feitas sobre a data de mudança. Lembrou que fracassou a idéia de que o governo faria a troca quando a paridade entre o dólar comercial e o cruzeiro estivesse em CR$ 1.000 por US$ 1, o que deve ocorrer em 8 de abril.
Em 1º de junho, o próximo momento possível para ocorrer a troca de moeda, a cotação do dólar está projetada em CR$ 1.930,00.
O governo pretende iniciar a distribuição das cédulas e moedas do real algumas semanas antes da conversão do cruzeiro real para a nova moeda. O Banco do Brasil, explicou ele, fornecerá as notas para os bancos sob consignação.
Serão mais de 1 bilhão de cédulas, que serão distribuídas pela própria rede privada. "Para a população, o melhor é não andar com dinheiro no bolso, ou com o mínimo possível", aconselhou Malan. Como o governo vai avisar a data da mudança da moeda com 35 dias de antecedência, haverá tempo suficiente para recolher todo o dinheiro nos bancos.
Malan contou que o governo iniciou consultas informais a vários economistas para, neste período de transição, encontrar a melhor forma de garantir para a sociedade que o real terá seu valor preservado.
"Há várias experiências no mundo e isso não está definido ainda", disse Malan. "Vamos definir regras de lastreamento e emissão do real." Dois serão os fatores que mais contribuirão para conferir credibilidade à nova moeda, ou seja, garantir que não haverá inflação no futuro.
Para Malan, são eles a aprovação da reforma fiscal pelo Congresso e a criação de maior autonomia para o BC, que teria uma diretoria com mandatos fixos. "Sou o 11º presidente do BC desde 1985, essa rotatividade é terrível para a credibilidade da moeda", afirmou.
"Se fracassarmos nesse esforço nos próximos meses, teremos uma enorme aceleração inflacionária até o final do ano, com aqueles movimentos de defesa já conhecidos. E aí sim virá um choque ao velho estilo em 1º de janeiro de 95", previu Malan.
A possibilidade de suceder ao ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, no caso de eventual desimcompatibilização por causa das eleições presidenciais, não passa pela cabeça de Malan. "Não gosto de especulações sobre hipóteses que nem foram colocadas para mim", afirmou. "Além disso, há pessoas mais indicadas para o cargo. Sou um mero funcionário público a serviço do país."

LEIA MAIS
sobre a sucessão de FHC na pág. 1-8

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