São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Brasil antes e depois

JARBAS PASSARINHO

Para ver-se, sem possibilidade de contestação, o saldo favorável da contra-revolução de 64, basta comparar o Brasil de antes e depois desse marco histórico.
Nossa economia ocupava o 48º lugar no ranking mundial. Saltamos para o 8º lugar, entre os países do mundo ocidental, e o 9º em todo o mundo. Nossa agricultura, paupérrima, produtora "de sobremesa". Modernizando-se o país, tivemos safras nunca antes atingidas.
Antes, havia o boy do telefone, um garoto contratado para esperar, horas a fio, pelo sinal para discar. Fora do eixo Rio-São Paulo, o sistema de telecomunicações era inexistente. Até 85 já tínhamos o DDD e o DDI funcionando perfeitamente. Agora, estamos na decadência, no refrão do "caiu a linha".
Éramos um país sem crédito, passando por vergonhas como apresamento de navios do Lloyd Brasileiro para resgate de dívida não honrada no exterior. Em Fort Knox, onde ficava a garantia de nossas parcas reservas em ouro, tivemos a interdição, impedidos de usá-las.
Exportávamos US$ 1 bilhão: café, açúcar, cacau, 70% devidos ao café. Num salto, passamos a exportar, já em 73, US$ 6 bilhões, o café perdendo a primazia, os produtos industrializados em avanço na pauta. Comprávamos 800 mil barris de petróleo importado, produzindo pouco mais de 150 mil barris/dia. Chegamos a produzir, na Petrobrás, 600 mil barris/dia. Passamos a refinar toda a nossa necessidade de consumo.
Só no governo Médici, asfaltamos 14 mil km de rodovias. Cortamos o país com elas, de leste a oeste, de sul a norte. Trafegava-se nelas confortavelmente.
Criamos o Fundo de Garantia (FGTS), o Banco Nacional de Habitação (BNH), o Banco Central. Reduziu-se a inflação, da expectativa de 140% ao ano, em 64, para 12% ao fim de 73. E, se voltamos, graças aos choques do petróleo, a ter inflação de 220% ao ano, compare-se com os 2.200% atuais e os 40% ao mês.
Na educação, o "gargalo da garrafa" era o ensino secundário. O ensino privado oferecia 74% das vagas. Só os que podiam pagar cursavam. Nas universidades, tínhamos 132 estudantes por 100 mil habitantes. Só melhor que o Haiti, a Guatemala e Honduras. Longe da Argentina, do Chile e do Uruguai.
Fez-se a reforma tributária. Também a administrativa. Construímos Itaipu, Tucuruí e outras hidrelétricas, os metrôs de São Paulo e do Rio.
Geramos milhões de litros de álcool, no Proálcool. Garantimos a soberania nas 200 milhas na costa. Surgiu a televisão em cores. Criamos o PIS e o Pasep. Chegamos ao 10º lugar como produtores de aço.
Tivemos, é justo dizer, alguns projetos malogrados, como o Mobral e a Ferrovia do Aço, mas o Brasil posterior a 64 foi, não há como negar, muito melhor que antes, no que tange à modernização dos fatores de produção.
Faltou-nos vitória igual no campo político, graças à necessidade de jugular as ações armadas da insurreição. Ainda assim, tivemos períodos de ampla liberdade, mas se a maior parte foi de autoritarismo, tivemos a sabedoria de manter funcionando as Câmaras Legislativas.
Fizemos eleições periódicas, os governantes passaram pelo rodízio no poder, e se tivemos cassações e luta armada, não conhecemos a virulência do que aconteceu no Cone Sul. E, concedida a anistia ampla, proporcionamos a pacificação da família brasileira.
O saldo, pois, comparando-se prós e contras, no período, é favorável, sim.

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