São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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O final feliz de uma novela

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

No próximo dia 15, a novela da renegociação da dívida externa com os bancos internacionais, que já dura quase 12 anos, vai ter um final feliz. Isto se Lula não vencer as eleições e reabrir a questão. Os US$ 52 bilhões que o Brasil devia a bancos internacionais estarão reescalonados por 30 anos.
Boa parte desta dívida será autoliquidada no vencimento, por títulos do governo norte-americano. Sobre o seu valor original, o Brasil vai obter uma redução da ordem de US$ 12,25 bilhões, relativa ao deságio dos "discount bonds".
Além disto, terá um ganho importante em alguns títulos que carregam um cupom de juros fixos abaixo do mercado. Este ganho só será quantificado "ex-post", quando forem conhecidas as taxas efetivas de juros nos próximos anos.
Com base na cotação dos IDUs, que são títulos já emitidos pelo Brasil e de grande liquidez, a redução de juros será mais importante do que o ganho com os "discount bonds".
O Brasil atropelou no final o modelo de renegociação criado sob a inspiração do governo norte-americano e conhecido como Plano Brady. Na prática, a negociação entre o Brasil e os bancos foi privada.
O governo brasileiro usou suas reservas para comprar no mercado secundário os títulos de 30 anos do Tesouro norte-americano. Ficou de fora o FMI, que funcionaria como auditor de nossa economia e emprestador de recursos para financiar junto com o Banco Mundial e o BID a compra das garantias definidas no acordo.
Também não participou o governo norte-americano, que venderia ao Brasil os "zero coupons" de 30 anos. Mesmo o FED norte-americano, que seria o custodiante das garantias, foi substituído pelo BIS.
Foi um final feliz. Aparentemente, estamos no fim de quatro anos de queda de juros no mercado internacional. Dificilmente o Brasil conseguiria nos próximos meses negociar os "coupons" de juros fixos que fazem parte do acordo a ser assinado no dia 15.
Além disto, a normalização de nossas relações financeiras com o mercado internacional vai abrir a entrada de recursos externos para o nosso país.
Os recursos não mais virão dos tradicionais emprestadores, que são os bancos comerciais, mas de uma nova geração de investidores institucionais, que possuem trilhões de dólares de ativos espalhados pelo mundo.

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