São Paulo, domingo, 27 de março de 1994 |
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Salles faz sua versão dos anos de chumbo
CÁSSIO STARLING CARLOS
Produção: Brasil, 1983, 96 min. Direção: Murilo Salles Elenco: Cláudio Marzo, Roberto Bataglin, Suzana Vieira Quando: Hoje, às 21h30 Onde: Espaço Banco Nacional de Cinema - Sala 3 (r. Augusta, 1.475, Cerqueira César) O cartaz de hoje do ciclo "1964: 30 Anos" marca a estréia em longa-metragem de Murilo Salles, aclamado fotógrafo de filmes como "Eu te Amo" de Arnaldo Jabor e "Dona Flor e seus Dois Maridos" de Bruno Barreto. Tomando como ponto de partida um conto do escritor gaúcho João Gilberto Noll –"Alguma Coisa Urgentemente"– "Nunca Fomos Tão Felizes" narra o reencontro entre pai e filho separados pelas adversidades instauradas pela repressão política nos anos 60. Metaforicamente ou não, Salles enfatiza o exílio que, mesmo juntos, um continua a viver em relação ao outro. O pai desaparece durante dias e o filho (Roberto Bataglin, em desempenho impecável) fica isolado num apartamento vazio, olhando o tempo que passa. Aos poucos vai reconstituindo o passado obscuro do pai com recortes de jornais que este mantinha escondidos. É assim, através de retalhos de imagens, que acaba compondo a imagem paterna de que necessita. Insidiosamente, a realidade dura daqueles tempos acaba por destruir seu retrato. Ao contrário do panfletarismo costumeiro nos filmes sobre a época do regime militar, Salles evitou a armadilha do discurso abertamente político. Preferiu captar o drama histórico pelo viés da angústia individual de quem nem sequer sabia o que se passava então. O título ironiza a opção feita pelo país naquele período. Mas mesmo com muita delicadeza, Salles realiza um retrato impiedoso da vida miúda de uma sociedade acossada pelos fantasmas que tentava exorcizar. Com um apuro visual raro, "Nunca Fomos Tão Felizes" consegue, com poucas palavras, dizer mais que a retórica ressentida dos cineastas engajados. Pois a grande história, aqui, é muito mais um mosaico de pequenos afetos que um painel de ações espetaculares. Texto Anterior: Universo circense invade Pinacoteca Próximo Texto: Nuno Ramos expõe seus 'Montes' até hoje Índice |
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