São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Cheever conta suas primeiras histórias

DO "THE NEW YORK TIMES BOOK REVIEW"

A publicação de "Thirteen Uncolected Stories by John Cheever", deve nos fazer refletir sobre aquilo que Naipaul chamou de "enigma da chegada". Mais que a maioria dos escritores americanos, Cheever casou estilo e conteúdo de uma forma bem particular. Ele cunhou os crepúsculos de martini e as melancolias sufocadas dos subúrbios no pós-guerra. Mas não costumamos pensar no caminho que ele teve de percorrer para se tornar esse escritor Cheever é resumido, para os que o lêem em coletâneas, a um romantismo doce-amargo. Trecho de "Housebreaker of the Shady
Hill": Temos uma casa agradável, com jardim e um lugar para churrasco no quintal, e nas noites de verão, sentados com as crianças e olhando o vestido de Christina
quando ela se inclina para salgar a carne, ou só olhando para as luzes no céu, fico excitado como ficaria com perigosos desafios (...)".
Embora algumas das histórias –as dos anos 40– não façam feio diante de ninguém, esta coletânea não teria visto a luz do dia se não tivesse o nome Cheever na capa.
Mas que fascínio há na leitura destas 13 histórias! O segundo parágrafo da primeira história, "Fall River" (1931), nos diz o que precisamos saber sobre o que Cheever
deve a Hemingway: "A casa em que vivíamos era numa montanha íngreme, e podíamos contemplar os pântanos salgados e o rio cinzento indo em direção ao mar. Era inverno, mas não havia nevado e por toda uma estação as estradas ficaram empoeiradas e o céu estava pesado (...)." Compare com a abertura de "Adeus às Armas" (1929); Cheever havia tomado uma injeção quase fatal de seu mestre.
As histórias apresenta uma linguagem mais livre e à vontade. "O vapor e e os odores da cozinha, os arpeggios pareciam leves e ascendentes, e porque Frank supunha
que Chopin fosse francês, lembrou-se de uma manhã de verão, em que ele e Frances iam de bicicleta para Avignon, e soldados gritaram para ela: 'Hé, la blonde'." ("Jantar de Família", 1926). A prosa está para se resolver num
tom dominante. Ao terminar, prendemos a respiração em expectativa. (Sven Bikerts)

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