São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Programa de foguetes deve decolar em 1995

HELIO GUROVITZ
DO ENVIADO ESPECIAL

A maior pedra no sapato do programa espacial brasileiro atende pelo nome de Veículo Lançador de Satélites (VLS). É um foguete capaz de pôr em órbita uma carga de 115 kg a 750 km de altura.
Como o próprio nome diz, a carga é um satélite. Mas só a idéia de que o VLS pudesse dar origem a um míssil nuclear –um "Veículo Lançador de Bomba"– o colocou na mira de boicotes e de um sem-número de interesses. Ele acabou atrasando mais de cinco anos.
"O próximo lançamento brasileiro tem que ser o do VLS", afirma o coronel Tiago Ribeiro, 49, responsável pelo VLS e diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE, vinculado ao Ministério da Aeronáutica). Segundo Ribeiro, o foguete de US$ 40 milhões ficará pronto em dezembro de 1995.
Muito tarde para colocar o próximo satélite em órbita (a ser concluído no final de 1994). "Se isso acontecer, só resta contratar um lançamento de outro país", diz Ribeiro. O primeiro satélite brasileiro já foi lançado em 1993 por um foguete dos EUA. Pelo plano inicial, seria lançado pelo VLS.
Para Ribeiro, o atraso do VLS não se deve apenas a restrições de alguns países à exportação de componentes para o Brasil. "As restrições são para o mundo todo. Elas afetam, mas não são a causa do atraso", diz. Da recém-fundada Agência Espacial Brasileira (AEB), Ribeiro espera maior atenção à parte espacial, além de mais recursos.
Segundo o presidente da AEB, Luiz Gylvan Meira Filho, 52, ainda não há um cronograma para coordenar o programa de foguetes, desenvolvido no IAE em virtude da possível aplicação militar, com o de satélites, em mãos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do Ministério da Ciência e Tecnologia.
A AEB tem um objetivo claro: coordenar os projetos espaciais e facilitar acordos internacionais e convênios. A AEB substitui a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (Cobae), do Ministério da Aeronáutica, que enfrentava problemas devido ao seu caráter militar. "Há uma fase de transição entre a Cobae e a AEB, porque a AEB ainda não está estruturada", diz Meira Filho.
Por enquanto, acordos internacionais ainda estão sob responsabilidade da Cobae. "A Cobae assinou recentemente um acordo com a Nasa para uma campanha de lançamento de foguetes de pesquisa a partir da base de lançamentos de Alcântara", diz Meira Filho.
Para Ribeiro, um dos problemas enfrentados pela Cobae era a ausência de um corpo técnico que julgasse com competência a destinação de recursos. A AEB conta com departamentos técnicos e funcionários especializados, como o diretor-geral da agência, por sinal um militar: o major-brigadeiro Ajax Barros de Melo.(HGz)

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