São Paulo, domingo, 27 de março de 1994 |
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País começa a receber novas tecnologias
HELIO GUROVITZ
"Já houve a abertura de uma firma norte-americana que nos havia negado sistematicamente uma venda de componentes", diz Carlos Santana, 47, gerente do projeto de Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres (CBERS), único projeto espacial desenvolvido pelo Brasil com outro país –a China. "Quando você adere ao MTCR, você diz: eu não vou exportar essa tecnologia, não vou repassá-la", diz o coronel Tiago Ribeiro, responsável pelo projeto do foguete que colocará satélites do Brasil no espaço –o VLS. "Não significa que você vai deixar de desenvolvê-la. Você não vai abrir mão da sua soberania", afirma. O VLS sofreu embargo dos EUA em componentes usados na chamada plataforma inercial –que identifica desvios de rota do foguete. Foi preciso resolver o problema de outro modo. "Em espaço, ninguém transfere nada. O que há é compra ou encomenda de estudos", diz o coronel. A tecnologia de satélites também tem dificuldade de atravessar fronteiras, mesmo sendo muito mais barata que a de foguetes. Um exemplo é seu sistema de estabilização. "O SCD-1 (único satélite em órbita feito no Brasil) é como um pião rodando no espaço", explica Janio Kono, 39, gerente da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), que desde 1979 recebeu cerca de US$ 150 milhões –aproximadamente o que a Índia gasta todo ano no programa espacial. O Brasil ainda não domina um sistema que permite que o satélite faça manobras no espaço e aponte sua antena para vários pontos –conhecido como estabilização em três eixos. Ironicamente, está sendo testado no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do Inpe um modelo de satélite argentino que usará esse sistema –o SAC-B. "A Argentina está recebendo um suporte direto e muito amplo da Nasa", diz Clovis Solano Pereira, 49, chefe do LIT. Segundo Kono e Santana, há gestões para um contrato do Brasil com a Alemanha, para desenvolver esse sistema. A China é responsável por esse sistema no satélite desenvolvido com o Brasil, mas não consta do acordo a transferência tecnológica explícita. O CBERS-1 é um projeto 70% chinês e 30% brasileiro. Haverá nele equipamentos brasileiros e chineses que não conversarão entre si, transmitindo dados independentes para cada país. Apesar disso, alguma transferência tecnológica é inevitável. "Se forem colocadas as pessoas apropriadas em um projeto de cooperação, indiretamente há transferência" diz Santana.(HGz) Texto Anterior: 'Você joga toda a sua carreira em um dia' Próximo Texto: Bases dos EUA sofrem concorrência crescente Índice |
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