São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Bases dos EUA sofrem concorrência crescente

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O espaço é um negócio em ascensão. Um relatório do Departamento de Comércio dos EUA de 1990 previu, e acertou, uma grande expansão nos primeiros anos da década.
O setor comercial do espaço movimenta quatro bilhões de dólares nos EUA por ano. Foram encomendados 51 satélites para entrega entre 1991 e 1993, cerca de 57% desses negócios no mundo. O Departamento de Comércio alertava já para uma grande expansão também da competição.
As bases espaciais estão se proliferando pelo planeta (veja mapa no alto da página).
Experimentos pioneiros com foguetes já estavam sendo feitos nos EUA e na Europa antes da Segunda Guerra. Mas foi uma invenção nazista que iniciou de fato a corrida espacial e se tornou o avô de todos foguetes e mísseis, tanto americanos como soviéticos, que vieram depois.
Batizado de V-2 pelos aliados, era um míssil balístico usado para bombardear Londres. Os ataques com essas bombas voadoras mataram milhares de londrinos.
No imediato pós-guerra, o exército americano trouxe algumas V-2 para os EUA e iniciou um programa de testes. Mais importante foram os recursos humanos. Engenheiros do projeto alemão de mísseis foram continuar seu trabalho na URSS e nos EUA. O mais famoso deles, Wernher von Braun, teve papel fundamental no programa americano Apollo de pousos na Lua.
Fazer um míssil era prerrogativa das "superpotências", mas construir foguetes está se tornando algo comum hoje. A Índia, por exemplo, criou foguetes para lançar satélites e aproveitou a tecnologia para fazer um míssil, uma arma de dissuasão na pendenga que o país tem com o Paquistão.
A área em que a concorrência mais perturba os americanos é o dos lançamentos dos satélites. Devido ao erro de se concentrar em ônibus espaciais para fazer esses lançamentos, os EUA ficaram sem ter o que fazer quando o Challenger explodiu em 1986. Graças a isso, ficaram alguns anos atrasados, o que permitiu à concorrência avançar.
Os principais concorrentes foram os europeus, com os foguetes da série Ariane, que são lançados da base de Kourou, na Guiana Francesa.
A China também entrou no mercado de lançamento de grandes satélites.
Como seus custos são mais baixos, chegaram até a assinar um acordo com os EUA limitando o número de lançamentos de satélites ocidentais, para não criar uma concorrência desleal.
O Japão também fez seu lançador pesado, o H-2. A Rússia, o país que mais lançou foguetes, precisa de moeda forte e também tenta entrar no mercado ocidental. A Índia, por enquanto, tem lançadores menores, mas também está na corrida.
E o Brasil, sob o coordenação da recém-criada Agência Espacial Brasileira, deve terminar um lançador pequeno nos próximos anos, o VLS (Veículo Lançador de Satélites).
Os mundos dos negócios e da política tomaram de assalto a exploração do espaço com a mesma ética que lhes é particular.
Um dos resultados foi a militarização das atividades espaciais, fruto dessa própria história do desenvolvimento da tecnologia.

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