São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Higiene na infância pode fazer mal à saúde

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores britânicos descobriram que a higiene doméstica durante a infância pode estar relacionada ao aparecimento, em idade adulta, da doença de Crohn –inflamação que pode atingir qualquer parte do aparelho digestivo, da boca ao ânus, provocando dores e sangramentos.
"A exposição diária a agentes infecciosos na infância pode programar os intestinos para reagir contra esses estímulos no decorrer da vida", disse à Folha por telefone Tony Gent, do Hospital do Distrito de Salisbury, autor de estudo publicado na edição de sábado da revista "The Lancet".
"Se você tiver uma boa higiene doméstica no início da vida, você não está exposto a uma gama de estímulos ao seu intestino, que pode ficar mais vulnerável à doença de Crohn em idade mais avançada", disse o pesquisador.
A equipe de Gent perguntou a 133 pacientes com a doença de Crohn se as primeiras três casas em que viveram na infância tinham água corrente, água quente, esgoto, descarga e um aposento separado para o banheiro.
A doença se mostrou cinco vezes mais frequente naqueles que tinham acesso a água quente quando crianças. O pesquisador notou também que ela era três vezes mais frequente nos que usavam um banheiro separado. "É uma diferença significativa", afirmou Gent.
Ele também estudou 231 pacientes com outra inflamação –a colite ulcerativa, que afeta o intestino grosso–, mas não obteve os mesmos resultados relativos à higiene. As duas inflamações têm causa desconhecida e estão associadas a fatores genéticos e imunológicos.
"Alguns gastroenterologistas postulavam que a doença de Crohn e a colite ulcerativa faziam parte do mesmo processo. O que publicamos sugere fortemente que são duas doenças separadas", diz o pesquisador britânico.
A doença de Crohn atinge cerca de 70 pessoas a cada 100 mil no Reino Unido. O pesquisador diz que os níveis da doença têm tendência a aumentar em países que vão adquirindo melhores condições de higiene doméstica.
Nesses casos, "um forte aumento na incidência da doença de Crohn deve ser esperado", escreveu Gent. Ele cita como evidência a Escócia e países desenvolvidos, onde a incidência aumentou nos últimos 40 anos.

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