São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Pesquisa critica dados sobre meninos de rua

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os números catastróficos sobre meninos e meninas de rua no Brasil são "distantes da realidade, estigmatizadores de famílias, crianças e adolescentes pobres, e inadequados enquanto balizas para a ação", diz a professora titular de psicologia social da PUC-SP e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Fulvia Rosemberg.
Com dois trabalhos publicados no final do ano passado e início deste (veja quadro), Fulvia traça a origem desse discurso catastrófico –veiculado desde a universidade, passando por ONGs e entidades como a Unicef até os meios de comunicação de massa.
O chamado "Ano Internacional da Criança", em 1979, é o marco inicial. "Até a década de 80 não havia o termo 'menino de rua'."
O novo termo dá a impressão de que a questão também é nova, embora ela tenha suas raízes, na sociedade atual, localizadas na Revolução Industrial e na privatização da família, no século 19, segundo Fulvia.
Com o novo termo vieram também as estimativas, a primeira e mais catastrófica, veiculada nos EUA em 1981 pelo então assessor da Unicef, Peter Taçon: 100 milhões no mundo, 40 milhões na América Latina e Caribe, 20 milhões no Brasil. Segue-se durante a década o que a pesquisadora chama de "loucura das cifras".
Os poucos trabalhos de contagem realizados –como o que foi coordenado por Fulvia em São Paulo, no ano passado– encontram resistência até mesmo de entidades que atuam na área, como a Pastoral do Menor. "É como se fosse politicamente inadequado não trabalhar com cifras astronômicas", afirma.

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