São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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É hora da folia

MARIA LUÍSA CAVALCANTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem quem feche os olhos para não ver o artista voar de um trapézio para outro ou para não encarar um homem andando de bicicleta em plena corda bamba. Ou ainda com medo que os leões avancem sobre o domador. Mas todos que estão do lado de lá do picadeiro tiram tudo isso de letra. E fazem a platéia se divertir.
A moçada que trabalha no circo Vostok, um dos maiores e mais tradicionais do Brasil, não sabe explicar muito bem de onde tiram coragem para enfrentar esses desafios todo fim-de-semana. Alguns dizem que está no sangue, já que nasceram e foram criados nesse ambiente. Outros garantem que estão acostumados.
A única exceção parace ser o garoto Mario Lucio Sanches camargo, 14, o "Hulk". Há três anos, ele protagoniza o número do globo da morte, junto com seu pai. E confessa: "Tem vezes que eu cismo e fico com um pouco de medo de entrar. Sei lá, talvez porque eu não sei como está a moto. Mas eu não conto nada para o meu pai e vou".
Para quê ele foi falar? Os outros fizeram a maior gozação. A única que concordou com Hulk foi Ana Paula Gonçalves, 24, a "Stephanie", domadora de cachorros. "É verdade que às vezes a gente está meio mal", diz.
A conversa gerou uma discussão entre os jovens do circo sobre qual seria o número mais difícil do espetáculo. Samantha, 15, e Laura Vostok, 20, são trapezistas e filhas do dono do circo. Engana-se quem pensa que elas achem sua função assustadora. "A gente já fez tanto que já se acostumou. Na hora, nem me lembro da altura", conta Samantha. Para elas, o número com os leões é o que dá mais medo. "Não dá para saber como um bicho vai reagir. Não dá para controlar. Pior ainda se forem os leões", explica Laura.
O equilibrista Sandro Wallys, 24, também está seguro no número que faz junto com sua mulher Lorraine, 22. Diferente das irmãs Vostok, Sandro pensa que ser palhaço é o maior desafio para um artista de circo. Por que, se parece tão simples e não oferece riscos? "O cara tem que fazer uma platéia inteira rir. Se ele não consegue, dá para imaginar o vexame", responde ele.
Hoje tem espetáculo
No dia em que receberam o Folhateen, os artistas do Vostok se preparavam para uma reestréia. Armado ao lado do Shopping Tamboré, em Barueri, o circo sofreu inundações com as chuvas do início de março e teve que adiar a sessão duas vezes. Para matar o tempo livre, alguns ensaiavam. Outros dormiam nos trailers. Algumas das meninas foram ao shopping, enquanto os meninos escutavam o jogo do Palmeiras, o time favorito da maioria.
Em fins-de-semana normais, com três ou quatro espetáculos por dia, não há tempo para moleza. "A gente ensaia o número dos cavalos, em que todo mundo participa. Depois aprontamos as roupas para entrar em cena", diz Samantha, que passa o resto da semana em Itu, onde estuda.
Além de arriscar a pele nos números mais perigosos do circo, os artistas também são escalados para ajudar a vender churros, pipocas e maçãs-do-amor nos intervalos. Depois ainda sobra pique para o grupo dar uma chegada a alguma discoteca.

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