São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
Próximo Texto | Índice

'Pedro Malazarte' estréia no Municipal

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Ópera: Pedro Malazarte
Autores: Camargo Guarnieri e Mario de Andrade
Intérpretes: Sebastião Teixeira (Pedro Malazarte, barítono), Regina Elena Mesquita (Baiana, mezzo-soprano), Carlos Slivskin (Alamão, tenor), Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Paulistano
Regente: Alessandro Sangiorgi
Direção: William Pereira
Figurinos: Caio Rocha
Iluminação: Cibele Forjaz
Quando: hoje, amanhã e quarta-feira, às 20h30
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de azevedo, s/n.º, tel. 011/222-8698) Quanto: de CR$ 400 a CR$ 4.000

A ópera cômica "Pedro Malazarte" tem um ato único e duração de apenas meia hora. Mas fatores extramusicais fizeram dela um dos casos mais arrastados da cortina lírica brasileira.
Será apresentada de hoje a quarta-feira no Teatro Municipal depois de 42 anos de sua estréia no Municipal do Rio de Janeiro. A montagem será completa se a Orquestra Sinfônica Municipal decidir não entrar em greve. Os músicos querem aumentar seu cachê e só definem a situação uma hora antes de começar a récita. Por isso, é prudente que o interessado em assistir ao espetáculo telefone para o teatro antes de sair de casa. O maestro italiano Alessandro Sangiorgi promete levar a récita adiante, mesmo que os músicos baixem os instrumentos. "Vamos usar o velho e bom piano", ameaça.
Como se não bastasse, o orçamento miúdo para o evento –US$ 8 mil, quando o Municipal aposta até US$ 500 mil em produções tipo "Aída"– levou seis meses para ser liberado. A ópera deixou de ser mostrada em setembro de 1993 por falta de verba. O dinheiro dos figurinos saiu na sexta-feira, conta o maestro. "Queriam que a gente apresentasse a ópera em concerto", diz. "Mas o próprio autor regeu uma versão assim em 1975 e se sentiu logrado porque achava que a música deveria ter função dramática".
A idéia da ópera apareceu em 1928. O jovem Camargo Guarnieri (1907-1993) discutia na casa de seu mestre, o escritor Mario de Andrade (1893-1945), sobre a possibilidade de se criar uma ópera nacional. Mario escreveu o libreto em três dias.
O escritor contou o enredo ao colega Manuel Bandeira: "Uma ópera cômica em um ato onde Malazarte flerta uma dona casada, de fato só para bispar a janta boa dela. Ela é baiana mora em Santa Catarina e é casada com um alemão, que foi na cidade vender o mate. A cena está só com a baiana, pondo a mesa para o namorado que vem. Está inquieta, abre a janela, e entra uma raiada de coro. É uma ciranda pedindo pra dançar na casa. Ela manda o pessoal dançar na vizinha e põe a comida na mesa. Ciranda amazônica passando por baiana em Santa Catarina. Ciranda vai e ciranda vem."
Guarnieri se sentiu imaturo e só encontrou forças para levar o projeto adiante em 1932. Nesse ano, entre os dias 1.º e 6 de janeiro, concluiu a obra. Reduziu a partitura para pequena orquestra e lançou mão de ritmos brasileiros para pontuar a cena.
Mario morreu sem ver a ópera montada. Ela estreou no Rio em 27 de maio de 1952, com escassa repercussão.
Sangiorgi afirma que a nova montagem aposta na teatralidade e no humor. "Ela diverte, embora seja uma obra atonal, moderna. Há passagens com chorinho e ciranda e a música sempre está a serviço da ação". Os cantores são veteranos e estão se esforçando em alcançar eficácia cômica. O papel da baiana é da mezzo-soprano Regina Elena Mesquita. O barítono Sebastião Teixeira faz Malazarte. Estavam planejando ensaiar com figurinos só ontem.
Sangiorgi espera fazer da até agora comédia de erros finalmente uma comédia.

Próximo Texto: "O Desafio" mostra a angústia de um período
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.