São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Plínio Doyle reúne inéditos de Drummond

ISABEL CRISTINA MAUAD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dedicatórias em poemas. Ou poemas em dedicatórias? Quando o poeta se chama Carlos Drummond de Andrade, a ordem dos fatores não altera o produto: poesias de alta qualidade. Que já começam a ser separadas para o projeto de um luxuoso livro, em homenagem ao poeta. Inéditas, muitas destas dedicatórias em poemas –ou poemas em dedicatórias– estão nas mãos (e nos livros) de um dos grandes amigos de Drummond: o maior colecionador de literatura brasileira, Plínio Doyle. Curioso, porém, é que a maioria não é a ele dirigida, e sim à sua filha, Sônia Doyle, adida cultural da Embaixada do Brasil na Tunísia.
"Para mim, ele não fazia poema não. Nas dedicatórias, ou me enviava um abraço ou pedia mais um espaço na minha estante (ri). Para Sônia é que fazia estes poemas lindos. E um deles, certamente, pode ser considerado uma segunda versão de 'No Meio do Caminho', que marcou a sua poesia", comenta Plínio. A versão-dedicatória (ao lado) foi escrita em dezembro de 1967 na primeira página de um exemplar de "Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um Poema". Plínio mereceu de Drummond 137 dedicatórias.
O incomum é escapar de suas obras completas poema da qualidade do que Drummond fez para Sônia ao dedicar-lhe o livro "Uma Pedra no Meio do Caminho", biografia do poema "No Meio do Caminho", que tanto impacto causou nos anos 20. Nesta espécie de segunda versão, em outro ritmo, aquela pedra que todos conhecem transforma-se em diamante na estante de Sônia. É uma preciosidade, até hoje inédita.
Talvez isto possa ser reparado. Doyle tem conversado com o empresário e bibliófilo José Mindlin sobre o projeto de um livro que reuna as principais dedicatórias de Drummond. Interessado no projeto do livro, Mindlin, também tem dedicatórias-poemas de Drummond, como a que exibe no exemplar de "Corpo": "Procuro no dicionário/ falta rima para corpo/ não é nada extraordinário/ sua rima é outro corpo."
"Não sei se ele colocou o mesmo poema em outras dedicatórias. Às vezes ele fazia uma poesia e a enviava a vários amigos. É evidente, porém, que os poemas que levam o nome de uma pessoa devem ter sido escritos apenas para aquela pessoa. Penso que uma boa idéia é fazermos um apelo a quem tenha recebido dedicatórias de Drummond. Os que as têm e se dispuserem a mostrá-las poderiam, então, também fazer parte deste livro de luxo. Aliás, até hoje não me conformo com a edição comercial de 'O Amor Natural', de Drummond. Sempre defendi para seus poemas eróticos uma edição luxuosa. Drummond tinha imaginação e capricho incríveis. Deveremos achar para o livro de dedicatórias um excelente material", aposta Mindlin.

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