São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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"Sabadoyles" literários nasceram em 1964

ISABEL CRISTINA MAUAD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na época, Sônia Doyle era professora de inglês. Mas adorava literatura brasileira como o pai, que se tornou o maior colecionador do gênero. Os maiores escritores passavam por sua casa, mas seu interesse se concentrou num. Exatamente um dos melhores amigos de seu pai, que, junto com ele, criou, em dezembro de 1964, o "Sabadoyle" –reuniões literárias, aos sábados, na casa de Plínio Doyle, que este ano completarão 30 anos, com passagem por três endereços de Doyle no Rio de Janeiro.
E justamente no início do "Sabadoyle" começava também a amizade entre Sônia, então com 26 anos de idade, e Drummond, então com 62. Não era estranho os escritores chegarem para as reuniões e verem os amigos discutindo literatura, comentando lançamentos ou, simplesmente, contando histórias do dia-a-dia. Assim, a cada novo livro que editava, o poeta não tinha dúvidas: logo na primeira página de um exemplar, escrevia uma dedicatória sob a forma de poema para a amiga. E assim foi, mesmo com a distância separando-os a cada final de férias de Sônia, que desde esta época já trabalhava na Embaixada do Brasil na Tunísia.
Pensa Plínio que, para Drummond, Sônia passou a ser como uma filha, a quem, através das dedicatórias, exprimia seu carinho. Aliás, lembra Plínio, o dia que Drummond o chamou para também criar, com ele, um Museu de Literatura, sua primeira referência foi em relação ás filhas, que estavam no exterior.
"Ele veio e disse: 'Plínio, estamos na mesma situação: filha única morando no exterior e mulher que não gosta de papel velho. Temos de dar destino aos nossos arquivos, para salvá-los", conta Plínio. Desta conversa nasceu o Arquivo Museu de Literatura da Fundação Casa de Rui Barbosa, em dezembro de 1972.
O certo é que, entre 1965 e 1984, Drummond escreveu 19 dedicatórias-poemas para Sônia Doyle. Delas, 18 são inéditas.
Na primeira página de um exemplar de "Seleta em Prosa e Verso", Drummond enviava à amiga, em julho de 1971, a seguinte dedicatória-poema:
"Não é laranja seleta / que o velho pregão do Rio / mercava na rua quieta, / nem é mesmo (desconfio) /seleta de letras finas. / Que importa? Vencendo o espaço, / rumo a plagas tunisinas, / leva a Sônia o meu abraço."
Em junho de 1967, escreve Drummond na primeira página do livro "José & Outros":
"E agora, José? Agora / escolhe o roteiro bom / e vai pelo espaço afora, / vai em vôo extraodinário, / sem pose nem cerimônia, / a Túnis e leva a Sônia / pelo seu aniversário / o abraço de / Drummond"
Já em janeiro de 1968, Drummond –que em "Obra Completa" publica, em 1967, o poema "Obrigado", no qual fala de sua "pretensão de vir da Escócia" – confunde-se com o sobrenome de Sônia, por nele buscar também uma raiz escocesa. E erra na dedicatória, já que Sônia nada tem de escocês. Na verdade, é descendente de irlandês. Mas escreveu para ela o poeta:
"O sobrenome escocês / de Sônia Doyle –que bom– / hoje é rima em português / para outro escocês / Drummond" (Isabel Cristina Mauad)

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