São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Morbidez de Charles Addams diverte NY
FERNANDO CANZIAN
"The Compleat Charles Addams" contém cerca de 170 desenhos e aquarelas originais do artista, além de alguns objetos pessoais. É pura diversão. O homem começou cedo e acabou deixando uma obra extensa. Com menos de 20 anos ganhava a vida desenhando cenas de crimes e corpos ensanguentados para a revista "True Detective". Saiu dessa para ilustrar a "The New Yorker", onde trabalhou mais de 50 anos. Publicou ali o melhor de sua obra. Produziu cerca de 70 aquarelas que ilustraram capas da revista. O mórbido dos desenhos do início da carreira acompanhou o artista para o resto da vida. Mas se converteu rapidamente em um excelente senso de humor. A Família Addams é apenas uma pequena parte do seu trabalho. Há outros desenhos que nada têm a ver com a aura dos Addams, como o de um executivo amarrado no Central Park (à moda das viagens de Gulliver) tendo o seu cartão American Express roubado por anõezinhos. O desenho é de 1976. A família Addams começou em 1960. Charles identificava a sua família real com os Addams, que acabaram virando série para a TV e, mais recentemente, filmes em Hollywood. Dizia que realmente se achava parecido com "uncle Fester" (o tio Funesto), "com mais cabelos, no entanto". A exposição que a biblioteca apresenta é dividida em oito seções, cada uma cobrindo um aspecto diferente da vida do artista. Em "Clássicos", o melhor é uma ilustração publicada na "The New Yorker" que mostra os Addams despejando óleo quente sobre uma turma de carolas que cantam músicas natalinas à porta da mansão. O desenho de um cemitério com uma porta giratória para facilitar a entrada e a saída faz parte da seção "Macabro". "Arte e Literatura" homenageia escritores e artistas como Edgar Allan Poe (satirizado com o seu corvo), Edvard Munch, Botticelli e até a Bíblia. "Mamãe Ganso" é um capítulo à parte. São ilustrações do artista que mostram uma visão completamente sua, incluindo bruxas, torturas e os Addams, da clássica fábula infantil. A maior parte dos trabalhos pertence ao acervo da Biblioteca Pública de Nova York. Foram doados pela viúva de Charles Addams e por uma colecionadora, Lady Colyton, em 1991. Addams era um assíduo frequentador da biblioteca. Dois meses após a sua morte a biblioteca promoveu uma homenagem ao artista que incluiu, conforme seu desejo, uma banda de Dixieland. Embora tenha estudado arte na University of Pennylvania e na Grand Central School of Art, Charles Addams costumava começar seus desenhos a partir de rabiscos sem pretensão. Dizia que uma coisa ia levando a outra até ter um desenho pronto. Uma das suas capas mais famosas para a "The New Yorker" começou com um risco oval que virou um pequeno morro. Outros rabiscos viraram ovelhas sobre o morro. Os mesmos movimentos foram subindo e algumas ovelhas flutuaram até se transformarem em nuvens. É difícil distinguir onde acabam as ovelhas e onde começam as nuvens. Um detalhe interessante é que, ao publicar este trabalho, Charles Addams suprimiu as únicas nuvens e ovelhas negras que constavam no meio das várias brancas no original. "Charlie era um dos mais conhecidos e amados cartunistas da América, e a exposição mostra sua tragetória completa", diz Barbara Nicholls, curadora da exposição. Texto Anterior: Mostra expõe dedicatórias Próximo Texto: Virginia Wolf ganha mostra Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |