São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Maguy Marin mostra seu teatro total em SP

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LYON

Maguy Marin é, hoje, a maior expressão da chamada nova dança francesa. Com seu mais recente espetáculo – "Waterzooi" – ela inaugura no dia 5 de maio o 4.º Festival Internacional de Artes Cênicas de São Paulo, dirigido por Ruth Escobar.
Síntese do teatro total que Maguy vem pesquisando há 16 anos com sua companhia, "Waterzooi" fala de comportamentos afetivos, dentro de uma ação cênica imaginária. Embora sem um conteúdo definido, mostra as diferentes nuances das emoções cotidianas, num contexto em que gesto, voz e música se completam.
São os próprios bailarinos-atores da Companhia Maguy Marin que produzem a música, seja tocando instrumentos criados por eles mesmos ou criando sonoridades com a voz. "A música de Waterzooi é o símbolo do espetáculo, que dispensa recursos externos para se apoiar na colaboração mútua de cada integrante do elenco", disse Maguy à Folha em Lyon, onde acompanhou no início da semana a estréia do espetáculo "An American Evening", pelo Ballet da Ópera de Lyon. Coreógrafa-residente do Ballet de Lyon durante dois anos, Maguy acaba de ser substituída pelo norte-americano Bill T. Jones.
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Folha – Como foi o processo de criação de "Waterzooi"?
Maguy Marin – Eu queria fazer um espetáculo muito simples, com o mínimo de recursos possível, sem cenários ou trilha musical gravada. Queria trabalhar com os dançarinos, sem que eles precisassem de acessórios ou roupas complicadas. Ou seja, um espetáculo em que a matéria-prima fosse tão somente o bailarino, um ser humano que pode dançar, cantar, falar, tocar música, produzir ritmo. Daí, como não teríamos música gravada, começamos a imaginar como o dançarino pode trabalhar com a produção da música.
Folha – A música surgiu aleatoriamente?
Maguy – Não. Nosso compositor imaginou melodias simples e curtas, com instrumentos musicais que pudessem ser carregados na mão e produzir uma música dançante. Trabalhamos quase um mês em cima disso. De início trabalhamos de uma maneira muito formal, o espetáculo se formou a partir das idéias que trocávamos. Depois de um mês de férias, começamos a perseguir o resultado dessa mistura de música e dança.
Folha – Como surgiu o tema do espetáculo?
Maguy – Nas férias percebi que devíamos trabalhar sobre o tema das emoções. Procurei quem havia escrito sobre isso e achei o "Tratado das Paixões", de Descartes, que explica de forma muito engraçada todas as emoções humanas. É um texto muito sutil, que permitiu criar situações tanto engraçadas quanto dramáticas. Em seguida trabalhamos na construção da peça, determinando onde entraria texto, onde a dança funcionaria com a música etc.
Folha – O que significa o nome "Waterzooi"?
Maguy – Waterzooi é o nome de uma comida flamenga. É um prato muito simples, feito de carne e legumes. Embora nada sofisticado, exige paciência porque a preparação é muito longa.
Folha – O texto de "Waterzooi" será falado e cantado em francês no Brasil?
Maguy – Embora seja um texto que funciona pela sonoridade, resolvemos traduzir para o português. Na última vez que estive em São Paulo, com "May B", a platéia estava cheia de franceses.

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sobre Maguy Marin à pág. 5-5

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