São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Berlusconi tenta criar "telecracia" na Itália

HUMBERTO SACCOMANDI
ENVIADO ESPECIAL A MILÃO

A eleição parlamentar de ontem e hoje na Itália é uma demonstração do poder da TV nas democracias ocidentais. O magnata da mídia Silvio Berlusconi usou e abusou das suas TVs durante a campanha eleitoral.
Segundo dados oficiais, seu partido chegou a dominar 68% do tempo dedicado ao noticiário político em uma de suas três redes de telveisão.
Os dados levantados pelo Centro de Escuta da Informação Radiotelevisiva, órgão governamental, mostram que o partido Forza Italia, de Berlusconi, teve 68% do noticiário político no telejornal da Rete Quattro, 60% no Canale 5 e "apenas" 51% no Italia Uno. Essas três redes pertencem ao grupo Fininvest, do empresário transformado em político.
Os outros partidos tiveram que dividir o tempo restante. No Canale 5, os ex-comunistas do PDS (iniciais em italiano de Partido Democrático da Esquerda) tiveram 14% e o centro, a ex-Democracia Cristã, apenas 7%. Isso apesar de esses dois grupos deterem mais da metade das cadeiras do atual Parlamento italiano.
Audiência
Esse uso "rolo compressor" da TV explica em parte o sucesso político de Berlusconi. Em apenas dois meses a sua Forza Italia surgiu do nada para se tornar o líder nas pesquisas de intenção de voto.
As três redes de televisão de "sua emittenza" (como o empresário é ironicamente chamado na Itália) têm cerca de metade da audiência no país.
Na TV pública, a RAI, a divisão é mais equânime. Na RAI-3, controlada pelos ex-comunistas, o PDS teve 22% do noticiário político, contra 14% para Forza Italia e 14% para o centro. Na RAI-1, controlada pelo governo, o centro teve 41% do noticiário, contra 17% dado aos ex-comunistas.
A fiscalização das transmissões políticas pela TV é responsabilidade do "Garante per l'Editoria", que deveria coibir o abusos dos meios de comunicação, especialmente as TVs. Os adversários de Berlusconi denunciam que nada foi feito nesse sentido.
Apoio aberto
Nas últimas duas semanas, quando a publicidade pela TV foi limitada, Berlusconi fez com que os apresentadores de suas redes o apoiassem abertamente e apareceu ininterruptamente "entrevistado" em seus canais.
"Votem em Berlusconi", apelou abertamente na semana passada Mike Bongiorno, um dos apresentadores mais populares do país.
No início da campanha eleitoral, quando Forza Italia ainda não era um partido, mas apenas um movimento, Berlusconi pôde inundar a TV de publicidade que posteriormente não entrou para o cálculo de gastos com campanha, limitado pela lei italiano.

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