São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Inflação em tempos de URV

Passado quase um mês de vigência da medida provisória 434, que criou a URV, não faltam exemplos de aumentos escorchantes em certos produtos. Mas, de outro lado, não se confirmaram as expectativas mais pessimistas, de explosão generalizada dos preços. Houve até quem imaginasse uma hiperinflação em cruzeiros reais, mas parece que os temores iniciais são aos poucos absorvidos pelos mercados.
Por especulação, por insegurança antes do anúncio do plano ou simplesmente para garantir suas margens na passagem para a nova moeda, o fato é que os agentes econômicos reajustaram fortemente os seus preços em cruzeiros reais nos meses de fevereiro e março.
Mas não há como desconhecer o descompasso entre a dona-de-casa indignada e uma relativa estabilidade dos índices de preços. Ocorre que o assalariado, de um lado, e o grande agente econômico, de outro, têm diferentes pontos de referência. Enquanto o primeiro fica estupefato diante de determinados aumentos, o segundo parece mais adaptado ao avassalador ritmo de elevação dos preços.
Nesse sentido, é razoável supor que a correção mensal dos salários venha a diminuir o desconforto do consumidor, já que mesmo continuando a inflação reduz-se a defasagem entre seu salário e os preços. Os indicadores do comércio e do emprego, aliás, já dão alguns sinais de recuperação ao longo de março, enquanto ensaia-se a montagem de sistemas de venda a prazo indexados à variação pela URV.
Para o mercado, que já trabalhava com valores plenamente indexados, a inflação estimada em aproximadamente 43% para março pode ser absorvida. A aceleração de três pontos percentuais frente aos 40% de fevereiro não muda significativamente o quadro –e o reajuste da URV já captou essa mudança.
Ou seja, ao incorporar à URV, ao longo do mês, o novo patamar da inflação em cruzeiros reais, o governo procura assegurar uma proteção aos salários e ao mesmo tempo estimular outros setores a adotarem-na como indexador confiável.
Debelar a inflação continua a ser a prioridade número um de qualquer política econômica e a necessidade da estabilização é inegável. Mas, em meio aos temores e à turbulência deste último mês, 43% é um número quase tranquilizador.

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