São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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As ruas de Paris

Um fantasma ronda a Europa: o desemprego da juventude. Há 25 anos os jovens sonhavam e exigiam um mundo novo. Na França de 1968, sonhava-se mais do que nunca –ser marginal era ser herói. O tempo passou e, no lugar dos sonhos, a marginalidade tornou-se amarga e o cotidiano, um pesadelo.
Os jovens agora saem novamente às ruas, mas para pedir emprego e protestar contra um decreto governamental que autoriza os empregadores a pagarem entre 30% a 80% do salário mínimo aos trabalhadores com menos de 25 anos. Em vez de reivindicarem o direito ao sonho e cobrar a imaginação no poder, mobilizam-se agora para pedir empregos e salários. Os protestos, muitas vezes violentos, espalharam-se pelas ruas de França.
Um em cada quatro jovens na faixa dos 25 anos está fora do mercado de trabalho francês. O governo conservador acredita que a flexibilização da legislação trabalhista é o caminho a seguir para tentar aumentar as oportunidades. Tendência aliás comum a outros países afetados por desemprego estrutural.
Além da mudança tecnológica que leva à dispensa de mão-de-obra, está em curso uma profunda reformulação geopolítica. No caso da Europa, destaca-se o desmonte das economias socialistas e o surgimento de contingentes de trabalhadores excedentes que migram em busca de ocupação, levando a um inescapável rebaixamento dos salários. De uma perspectiva global, está em curso no mundo inteiro uma reestruturação industrial que desloca para novas economias industrializadas, como as localizadas na Ásia, as oportunidades de emprego e investimento que hoje fazem falta aos jovens do continente Europeu.
O fenômeno do desemprego torna-se especialmente assustador quando a juventude como um todo passa a sentir-se excluída do futuro. Foi esta, no passado, uma das sementes da barbárie política. De modo distinto e mais do que imaginavam os rebeldes de 1968, tornou-se urgente conseguir usar o poder com o máximo de imaginação.

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