São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Tudo pode acontecer

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Em conversa com importante autoridade local, sou informado de que a candidatura do general Newton Cruz está começando a crescer. Na eleição passada ele tentou eleger-se deputado federal. Agora, lançou-se ao governo do Estado, timidamente, nas águas de seu amigo e destacado cabo eleitoral, o ex-presidente João Baptista Figueiredo. Seria, mais uma vez, uma candidatura pitoresca, sem expressiva penetração no eleitorado.
Nos últimos dias, mais precisamente, a partir do sequestro do cardeal Aloísio Lorscheider, com a indefinição do PDT até agora sem candidato lançado e com a aparente estagnação da candidatura de Marcello Alencar, o general surge como um fato novo, justamente por se tratar de um elemento saído da velha estrutura nascida do movimento militar de 64.
Sabe-se que numa reunião no clube mais sofisticado do país, entre 34 presentes, 32 declararam-se a favor do general. Até aí, pouca ou nenhuma surpresa. Mas em sondagens na zona do agrião eleitoral, a Baixada e a zona oeste, muita gente começa a ver no antigo comandante militar de Brasília a solução para o governo do Rio de Janeiro.
O general é durão, adepto do "prendo e arrebento" com que João Baptista Figueiredo queria governar o país –e ficou na ameaça, felizmente para todos nós, inclusive para o próprio Figueiredo. Newton Cruz marcou-se mais pela truculência policial do que pela violência política.
Nunca soube (nem se incomodou com isso) lidar com a mídia, tornou-se, em certo momento, a "bête noir" do regime, foi demonizado ao ponto de ser acusado pelo assassinato de um picareta, numa armação tão idiota que, passada a poeira, a Justiça o absolveu e a própria mídia esqueceu a gafe.
Não conheço o programa do general. Aliás, ele nem precisa de programa, embora deva ter um. Vai para luta com a cara e coragem –e tem as duas de forma inapelável, goste-se ou não dele. O eleitor do interior é, em muitos sentidos, condicionado pela capital, cujo eleitorado é talvez o mais surpreendente do país.
Registro o fato e nem quero levantar a hipótese: ainda pode surgir um Newton Cruz em nível federal. Há condições objetivas para isso.

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