São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
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PSDB e equipe econômica temem intervenção de Itamar

SÔNIA MOSSRI; INÁCIO MUZZI; GILBERTO DIMENSTEIN; TALES FARIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PSDB e a equipe econômica temem que, definida a candidatura do ministro Fernando Henrique Cardoso à Presidência, o presidente Itamar Franco interfira nos rumos do plano de estabilização econômica.
FHC deixa o cargo com os principais elaboradores do plano apreensivos quanto aos riscos políticos e econômicos do programa.
Os principais líderes dos tucanos já procuraram o futuro ministro, Ribens Ricupero, a fim de montar uma estratégia para evitar as interferências de Itamar.
Ricupero garantiu que irá manter a atual equipe de FHC e que não pretende promover "mudanças de rota".
Grupo de Juiz de Fora
A ampliação do espaço do grupo de Juiz de Fora no governo é motivo de preocupação dos assessores de Fernando Henrique.
Controle de preços e juros, ao lado da antecipação do ingresso do real, são idéias que podem ganhar força junto a Itamar Franco.
A equipe avalia que Ricupero, dificilmente terá a mesma intimidade e habilidade de FHC com o presidente da República.
Por isso mesmo, Gustavo Franco, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho, Winston Fritsch, Pedro Malan e Pérsio Arida –que integram o time que elaborou o plano– contam a interferência direta de FHC nos prováveis momentos de atrito entre a Fazenda e o Planalto.
O próprio substituto de FHC também terá uma tarefa complicada pela frente: administrar uma constelação de ministeriáveis com divergências entre si.
O secretário-executivo da Fazenda, Clóvis Carvalho, por exemplo, coleciona divergências antigas com Winston Fritsch, secretário-adjunto de Política Econômica.
FHC também disse a parlamentares do PSDB que a consolidação da candidatura de Orestes Quércia pelo PMDB resultará inevitavelmente no enfraquecimento da base parlamentar do governo no Congresso. Manobras do PMDB contra o plano já são esperadas.
Votação da MP da URV
O primeiro teste da desenvoltura de Ricupero no Congresso e o poder de articulação de FHC, já no Senado, será a votação da medida provisória da URV (Unidade Real de Valor).
O governo não conseguirá adiar a votação da MP até a criação do real. Com isso, o risco de mudanças introduzidas por parlamentares é maior, especialmente com FHC disputanto as eleições presidenciais.
Outro problema que o substituto de FHC tem pela frente é a fragilidade do equilíbrio fiscal do plano, que se agravará com a perspectiva de queda da inflação.
A Receita Federal avalia que os recursos orçamentários para 94 são insuficientes para a manutenção mínima da máquina pública. Pressões para gastos já começam a surgir junto ao Planalto.
A queda da inflação traria dificuldades para o caixa do Tesouro Nacional. O governo não teria mais a corrosão da inflação para controlar o déficit, mediante a protelação da liberação de recursos orçamentários. (Sônia Mossri, Inácio Muzzi, Gilberto Dimenstein e Tales Faria)

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