São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 1994
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FHC atravessa o rubicão

LUÍS NASSIF

O ministro Fernando Henrique Cardoso atravessou o rubicão. Desincompatibilizando-se para disputar as eleições, cria um cenário novo para seu plano econômico –agravado pelos recentes distúrbios que acometeram o presidente da República.
O cenário que se avizinha passa por algumas premissas relevantes:
1) Não parece correta a análise de que o embaixador Rubens Ricúpero seja um anti-FHC e que sua indicação teria visado retirar de FHC a influência sobre o plano.
A maneira desajeitada com que Itamar Franco conduziu o episódio prende-se exclusivamente à falta de jogo de cintura e à sua necessidade de auto-afirmação –características suas por demais conhecidas de toda opinião pública.
Neste episódio em questão, Itamar exercitou até moderadamente seu desejo de auto-afirmação. Desde o início, Ricúpero e Pedro Malan foram considerados alternativas mais viáveis para substituir FHC e dar continuidade ao programa econômico em conformidade com o ministro. O embaixador tem amplas ligações com São Paulo, com círculos peessedebistas e com o próprio FHC.
O que Itamar fez foi exercitar seu livre arbítrio entre duas alternativas previamente selecionadas para não comprometer o plano. E vazar a informação para a imprensa para demonstrar, com seu peculiar ímpeto de auto-afirmação, que ele é o verdadeiro dono da cocada preta. É um impulso adolescente, na qual não se devem buscar as maldades dos adultos.
2) O embaixador é uma pessoal racional, às vezes até excessivamente realista. Da parte que lhe cabe, não se espere nenhuma atitude rocambolesca na condução da política econômica.
3) Mesmo tendo se comportado de acordo com seu figurino, no episódio de substituição de FHC, o fato é que a repercussão desta briga com o STF foi demais para a pobre cabeça de Itamar. Pessoas que estiveram recentemente com ele descrevem um presidente eufórico com seus cinco minutos de prestígio. Este clima de euforia é prato certo para quem estiver a fim de manipular o presidente.
Daí a importância da imprensa agir com moderação, evitando estimulá-lo a adotar medidas heróicas. É de domínio público a imprevisibilidade de Itamar e os riscos que impõe ao país sempre que atua sob pressão.
4) Somando-se a euforia de Itamar, e subtraindo-se a moderação de Ricúpero, pode-se esperar um plano econômico sendo conduzido convencionalmente, mas necessitando de tranquilidade geral para produzir estabilização. E sendo constantemente atropelado por declarações estrambólicas de Itamar e sua turma.
5) As expectativas em relação ao plano serão afetadas diretamente pelas possibilidades eleitorais de FHC. Se o candidato persistir nesta política acomodatícia de aguardar que os aliados venham até ele, pela lei da gravidade, esvazia sua candidatura e cria um vácuo em relação ao futuro do plano.
CUT e Meneghelli
A coluna recebe carta respeitosa da CUT e de Vicentinho rebatendo afirmação da coluna de que seu presidente, Jair Meneghelli, recebeu seus cargos de mão beijada, ou que, sob seu comando, a CUT não tenha participado de programas de modernização –como o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade.
A coluna não fez ataques pessoais a Meneghelli –mas ao estilo político que ele representa. E as avaliações foram passadas à coluna por pessoas das mais influentes dentro do PT. Motivo pelo qual fica o registro das cartas, mas sem elementos objetivos que justifiquem admissão de erro por parte da coluna.
Força Sindical
A coluna recebe carta de Alemão, da Força Sindical, informando que sua central participou ativamente de todos os passos e discussões a respeito do acordo coletivo de trabalho –inclusive no recente seminário de Brasília, que foi boicotado pela CUT.
A carta retifica afirmações da coluna, de semanas atrás, de que não haveria interesse da Força em desvencilhar o sindicalismo do governo.
Barelli
Doze meses fazendo jogo de cena em relação à implantação do contrato coletivo, promovendo dezenas de seminários, mas sem nenhum compromisso com sua implantação efetiva, seguido de uma renúncia eleitoreira, reduzem Walter Barelli a uma mera sombra do que sua imagem pública projetava.

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