São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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FHC diz que 64 'é a memória de um túnel'

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o senador Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), o Movimento Militar de 64 criou um sistema repressivo que escapou ao controle de seus dirigentes. "Foi um túnel que custou muito a ser atravessado. Nós o atravessamos e temos a memória dele para não repeti-lo", afirmou.
A lição básica que restou foi a transformação da democracia num valor que é ao mesmo tempo meio e fim, sem que ela seja vista como mero instrumento para atingir outros objetivos.
Convidado a definir em poucas palavras a aspiração nascida no pós-64, foi lacônico: "Golpe nunca mais."
"Sem canais de organização partidária, o regime foi pouco a pouco sendo afogado", disse.
Lembrou estudos posteriores que assinalavam a paralisação dos centros de decisão ao fim do governo Goulart. O Congresso não mais legislava já em 63 e o Executivo não processava de maneira coerente as informações com que a sociedade sinalizava suas angústias. Isso num cenário ideologicamente polarizado e que refletia, no plano interno, a Guerra Fria que dividia externamente o mundo em dois blocos. "Não soubemos construir uma fórmula política capaz de dar vazão à necessidade de uma transformação econômica que era imperiosa", disse.
Já com os militares no poder, relata ter entrado em confronto com outros intelectuais da oposição ao se opor à idéia de que o regime era "colonial fascista". Seu caráter ditatorial era "inegável", mas ao mesmo tempo se operavam transformações econômicas que permitiam, por exemplo, que a cada dez anos dobrasse o número de integrantes da classe trabalhadora. Como sociólogo, cunhou a expressão "desenvolvimento dependente associado" para qualificar aquela etapa do processo.
No capítulo das heranças, o ex-ministro da Fazenda menciona a Constituição de 88 como uma reação ao Estado centralizado que, por sua vez, criou outros problemas diretamente derivados dos antídotos ao autoritarismo. Exemplos: o estímulo à formação de pequenos partidos se traduziu, na prática, por "regras de impraticabilidade do convívio no Congresso". O sistema partidário também "se descolou" da sociedade. (JBN)

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