São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Oportunidade

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique Cardoso está em plena campanha. A armação da cena em que apresentou as notas da nova moeda, para o Jornal Nacional anunciar que foi "revelada a cara do real", é um ato claro de propaganda. É o que chamam de "photo-op", oportunidade para fotografia, para aparecer na televisão. De quebra, como ironizou o Jornal Bandeirantes, para lançar seu "santinho".
Mas não foi esse o único sinal, ontem, de que o ministro já vive em ritmo de campanha. Uma passagem do TJ e do Jornal da Manchete revelou que não falta mais nada. Com cuidado, com todos os atenuantes, um repórter questionou o candidato, logo de manhã, sobre uma possível "relação extraconjugal". FHC nem piscou para dar uma rápida, pronta resposta: "Lama não".
Fico
Paulo Maluf não aguentou. Dois dias depois de uma reunião sigilosa com Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, "o prefeito de São Paulo decidiu que fica", como brincou o Rede Cidade. Foi um anúncio oficial, com toda a formalidade, até uma nota curta que o prefeito repetiu para cada televisão, uma a uma. "Eu sou candidato a presidente, mas não agora. Em 1998", disse Maluf, com voz triste mas sincera.
No SBT, enquanto isso, anunciavam que "Hebe recebe o título de cidadã paulistana". Ela é talvez a maior culpada pelo "fico", com as críticas que fez à idéia do prefeito de deixar o cargo, no Onze e Meia, na semana passada.
Hebe tornou-se cidadã paulistana, não por tais críticas, mas por aquelas feitas antes aos deputados. De todo modo, para a maioria dos paulistanos, aqueles mais de 80% que andavam apavorados com Sólon Borges dos Reis, a homenagem deve valer por tudo.
Aniversário
No dia anterior ao 31 de março, os dois maiores telejornais do país trataram de forma bem diversa o aniversário.
No TJ, Boris Casoy fez uma longa história em que procurou manter-se distanciado, falando, por exemplo, em "série de atos violentos dos dois lados". No final, fez uma defesa apaixonada da democracia, chegando a dizer: "Autoritarismo nunca mais." O Jornal Nacional, que não pode se dar tamanha liberdade, ficou no registro da ordem do dia dos ministros militares, que questiona quem fala em golpe ou quartelada.

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