São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Equipe acha primeiro crânio de hominídeo

CLÁUDIO CSILLAG
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA*

O mais antigo ancestral humano está de cabeça feita, pelo menos para os estudiosos da evolução humana. Cientistas dos EUA e de Israel conseguiram montar o mais antigo crânio de um ancestral do homem.
"O crânio foi achado em pedaços", disse à Folha William Kimbel, do Instituto de Origem Humana em Berkeley, na Califórnia, que relata a descoberta na edição de hoje da revista "Nature".
"Trata-se do crânio de um macho, da mesma espécie que a Lucy", disse o pesquisador. Segundo ele, o fóssil mostra que os mais antigos ancestrais humanos, a "família da Lucy", tinham cérebro pequeno e mandíbula grande.
O indivíduo pré-humano cujo crânio foi achado viveu na África há 3 milhões de anos. Pertence à espécie Australopithecus afarensis, cujo integrante mais famoso é Lucy: apelido que um esqueleto um pouco mais antigo, de 3,18 milhões de anos, recebeu (quando os cientistas comemoravam o achado, eles ouviam a música dos Beatles "Lucy in the Sky with Diamonds").
Lucy é um dos fósseis pré-humanos mais importantes que há. Descoberta por Donald Johanson (que está na equipe de Kimbel), em 1978, Lucy foi considerada o elo perdido que ligou a linhagem dos seres humanos à dos macacos. O problema é que, embora o esqueleto estivesse relativamente bem preservado, quase nada do crânio havia sobrado.
"Agora temos o primeiro crânio da espécie dela", disse Kimbel. Além de fornecer dados sobre o "jeitão" da família (veja foto ao lado), o "filho da Lucy" traz uma outra característica: mostra, segundo o cientista, que os machos eram maiores que as fêmeas.
Outros fósseis da espécie sugerem que as fêmeas pesavam cerca de 35 kg, e os machos, cerca de 50 kg. (Lucy era, de fato, uma fêmea pequena, enquanto que o novo crânio é o maior já encontrado entre todos os fósseis de família).
É uma teoria disputada. Outros cientistas acreditam que pelo menos duas espécies de Australopithecus, de tamanhos diferentes, viviam no nordeste da Etiópia. De acordo com essa versão, os indivíduos com ossos maiores seriam de uma outra espécie, hoje extinta.
A importância da "família da Lucy", no entanto, é a mesma para as duas hipóteses: é ela o ponto de partida da linhagem do homem.
Eva
Na mesma edição da revista "Nature", dois artigos sugerem que o homem moderno provém de uma única população que viveu na África entre 200 mil a 100 mil anos atrás (ou seja, 3 milhões de anos após Lucy). Essa população seria representada por uma "Eva" comum a toda a espécie humana. Outra teria diz que os seres humanos surgiram em diversos pontos do globo.
Cientistas da Universidade do Texas, em Dallas, estudaram a variedade genética humana, enquanto que uma equipe da Universidade de Nova York, em Stony Brook, investigou o formato de crânios humanos.

* Com agências internacionais

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