São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Safra bate recorde apesar do governo

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

Mal o governo anunciou a safra recorde de grãos, alguns ex-ministros da Agricultura do governo Itamar apressaram-se em assumir a sua paternidade.
Um deles, o quarto de uma lista de oito, candidato a candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB, chegou a espalhar out-doors pelas ruas de São Paulo, atribuindo o sucesso da lavoura ao seu trabalho, de apenas 75 dias, no Ministério.
Bobagem. Em 18 meses de governo, o presidente Itamar Franco nomeou nove ministros para a agricultura. A maioria deles não teve tempo para fazer nada, sequer para decorar o número do telefone de seu gabinete.
O primeiro da lista dos ex-ministros, Lázaro Barbosa, ficou sete meses no cargo; Wilson Romão (interino), 13 dias; Nuri Andraus, nove dias; Wilson Romão (interino), um dia; Barroz Munhoz, 75; Andrade Vieira (interino), 44 dias; Dejandir Dalpasquale, 68 dias; Alberto Duque Portugal (interino), 35 dias e Synval Guazzelli, o atual, está há 65 dias no Ministério.
A inflação de ministros demonstra, na verdade, o descaso do governo pela agricultura. A safra foi recorde por mérito do agricultor, que contou também com a ajuda do clima. Mas poderia ser bem maior se o governo não tivesse destruído as culturas de trigo e algodão.
A produção de trigo, que chegou perto da auto-suficiência em 87 (6 milhões de t), despencou para 2 milhões de t em 93, como resultado da drástica redução das tarifas de importação sobre trigo e farinhas. Este ano, o país deverá importar cerca de 6 mil t.
O trigo importado vem de países onde os agricultores recebem subsídios para o plantio. A troca do trigo nacional pelo importado provocou o desemprego de pelo menos 400 mil trabalhadores rurais durante a safra. Plantada no inverno, a cultura ocupa áreas e mão-de-obra ociosas entre março e setembro.
No algodão, o Brasil passou de exportador a importador, depois que o governo eliminou a tarifa de importação. De 1,221 milhão de ha em 84, a área plantada no Centro-Sul foi reduzida a apenas 652 ha nesta safra. Como emprega mão-de-obra intensiva na colheita, a crise do algodão levou ao desemprego cerca de 300 mil trabalhadores no campo.

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