São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Atrás da verde-e-rosa

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Hipocrisia e certa dose de cinismo são ingredientes na carreira de um político profissional. Evidente que há políticos não profissionais, que estudam e analisam a vida e os costumes da "pólis" sem nada querer com a carreira propriamente dita.
Errando ou acertando, nutrem e mantêm a honestidade pessoal e intelectual acima de tudo. Têm, em comum, sejam da direita, do centro ou da esquerda, o sagrado horror à vida pública. Hoje, 31 de março, o tabuleiro da sucessão presidencial, longe de estar definido, ganha pelo menos um elemento de confusão a menos.
O ministro da Fazenda sai do cargo e coloca seu nome à disposição do PSDB e, mais tarde, dos eleitores em geral. Nos meses em que foi a autoridade máxima na gestão das burras nacionais, falou muito, riu muito, ameaçou muito, mas os resultados são pífios.
Os jornais que mostram os gráficos de sua gestão só apresentam uma curva ascendente: a da inflação. Em todos os demais itens, a administração do sr. FHC também foi um fracasso.
Bem, ele deixou um plano que podia ser uma esperança e desde já é a promessa principal de sua campanha. Plano que não chega a ser dele, mas de uma equipe que já fizera laboratório no governo Sarney.
Reprovada em primeira época, a equipe tenta agora a recuperação –e pelo menos em nome quase está chegando lá, com um Ricupero de faces franciscanas como a do Betinho e dono de biografia exemplar e devota.
Muito bem. Grande parte da mídia, estranhamente, está abandonando o PT e passando-se para os lados do agora ex-ministro. Há assanhamento mal-informado: afinal, o candidato tucano junta no mesmo saco a Fiesp, a Rede Globo, as pessoas físicas dos oligopólios por ele ameaçados e esculhambados como pessoas jurídicas. As adesões a caminho são até piores.
Lembro, não sei por que, o assanhamento da mídia em torno da Mangueira no último Carnaval carioca. Era crime de lesa-pátria, de lesa-cultura duvidar da verde-e-rosa. As bravas gentes declararam e cantaram a vitória antes do tempo –mania que aliás persegue o candidato ex-ministro. Deu no que deu.

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