São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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ACM

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Começou anteontem, com a festa que marcou a saída de ACM do governo da Bahia. Uma longa cobertura no Jornal Nacional, com insistência para a informação de que ele saía candidato mas não tinha ainda o cargo. Ontem, recebeu até manchete no Jornal Nacional, sempre na Globo. "A Bahia solta presos em protesto contra a liberdade dos corruptos."
Talvez seja para aumentar o cacife de ACM na negociação para tornar seu filho o vice de FHC. Talvez seja apenas para deixar uma boa impressão, quando o coronel baiano está largando o governo para tentar, como dizem, o Senado. Mas talvez seja também para manter a opção do candidato ACM, agora que Paulo Maluf já foi convencido a sair do jogo.
Aniversário
Aconteceu 30 anos atrás, mas a briga continuava ontem, no Debate na TV. No mesmo programa, Erasmo Dias e José Genoino. De quebra, Fernando Gabeira. O coronel, como é de seu feitio, espumava. O petista ainda tentou manter sua linha liberal, mais recente, mas ele também terminou espumando.
Acabou ficando com o verde Fernando Gabeira a mediação. Erasmo Dias e José Genoino já abriram discordando no vocabulário. Para um, era aniversário da "revolução". Para o outro, do "golpe". Na sequência, depois de algumas ironias do coronel, começou o bate-boca que deixou o jogo aberto.
"Tu não é democrata nem aqui nem no inferno", disse Erasmo Dias, para Genoino.
"Você não muda", reagiu José Genoino, para Dias. "Essa sua direita truculenta."
Entrou Gabeira. "Eu não discuto nesse tom. Nostalgia do radicalismo não tem sentido." E mais à frente: "Hoje todos nós queremos a democracia."
Oráculo
Para quem gosta de procurar nas imagens da televisão os sinais dos tempos, o Jornal Nacional foi um oráculo, ontem. As cenas da Procissão do Fogaréu, realizada em Goiás, antiga capital do Estado de Goiás, foram mostradas já na manchete, cortando a rotina das imagens da Semana Santa na televisão.
Foi um rito colonial. Mesmo mostrando "um dos momentos dramáticos da vida de Jesus", como descreveu o locutor, as imagens lembravam mais um auto-da-fé. Um "espetáculo da fé", segundo o locutor. Em tempos de fanatismo religioso, é a mídia descobrindo as imagens renovadas da Inquisição.

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