São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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FHC diz que vai opinar sobre o plano

SUSI AISSA
ENVIADA ESPECIAL A BURITIS (MG)

O ex-ministro Fernando Henrique Cardoso disse ontem que vai continuar opinando sobre o plano de estabilização econômica que ele deixou de comandar para ser candidato a presidente. Reafirmou que aceita alianças e que não teme ser considerado de "direita" só porque admite subir no mesmo palanque com Antônio Carlos Magalhães. "Ninguém vai poder dizer que eu sou de direita, porque eu não sou."
Em entrevista à Folha, ontem, em sua fazenda Córrego da Ponte, em Unaí (MG), comarca de Buritis, FHC disse que o plano é o seu programa de governo. "Todo mundo sabe que o plano é meu. Vou continuar opinando."
*
Folha - O sr. já tem um programa de governo?
Fernando Henrique Cardoso - Só vou pensar nesse assunto no final de abril. O programa é o plano e vamos sustentar isso até o fim.
Folha - Quando a população vai sentir os efeitos do plano?
FHC - No segundo semestre a economia estará estabilizada. Não tenho dúvidas disso. As coisas já mudaram muito.
Folha - O sr. vai continuar interferindo na condução do programa econômico?
FHC - Interferindo, não. Mas sustentando o plano diante da sociedade, isso sim.
Folha - Mas o sr. pretende continuar mantendo contato com a equipe econômica?
FHC - Manterei contatos frequentes com o novo ministro. A pedido dele.
Folha - Há quem entenda que isso não seria muito ético, uma vez que o sr. é um candidato.
FHC - Conversa fiada. Todo mundo sabe que o plano é meu, foi feito por mim. Vou continuar opinando. Mas a responsabilidade dos atos não é mais minha. A sustentação do programa, sim.
Folha - O sr. pensa mesmo fazer alianças com PFL e PPR?
FHC - O PSDB é que encaminha isso. Por que você faz aliança? Para ganhar. No nosso sistema, de dois turnos, todos vão fazer aliança. A grande aliança é do eleitor. Não é a cúpula que decide. É o eleitorado que migra de um para outro. Você só tem uma conversa com quem é desigual. Quando é igual não precisa de aliança. Pega o PT, que está fazendo aliança com o PC do B, um partido atrasadíssimo, que é favorável à ditadura. Por que faz aliança? É porque precisa do voto. É a mesma coisa.
Folha - O sr. então aceitaria alianças com o PPR, com o PFL.
FHC - Com eles e também com o PDT, PP, PT. Pode ser com o PT. De repente no segundo turno não entra o Lula ou não entro eu.
Folha - Será que o eleitor do PSDB vai aceitar o sr. subindo no mesmo palanque do ACM?
FHC - Eu já subi ao palanque ao lado do Antônio Carlos Magalhães, do Tancredo Neves, do Lula, de todo mundo. Isso tudo é levar uma discussão que não é real. Qual é a real? Qual é o programa, quem são as pessoas em quem se confia e com quem vai governar. Se o PT quiser fazer aliança para me apoiar, eu ficarei feliz. Eu tenho biografia, eu tenho história. Ninguém vai poder dizer que eu sou de direita, porque eu não sou.
Folha - Quem vai financiar sua campanha?
FHC - Ainda não sei. Isso ainda está sendo discutido.
Folha - O sr. receberia uma contribuição da Odebrecht?
FHC - Sim. Desde que seja declarado, tudo bem.

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