São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Governadores articulam Sarney contra Quércia

GILBERTO DIMENSTEIN; TALES FARIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cúpula do PMDB no Congresso e os governadores do partido querem usar o ex-presidente José Sarney como última arma contra a candidatura de Orestes Quércia à Presidência da República.
A estratégia é lançar Sarney e trabalhar por sua vitória nas prévias eleitorais do partido. O ex-governador do Pará Jáder Barbalho, quercista, já apóia a idéia.
Barbalho se confessa até mesmo devedor de favores de Quércia, de quem recebeu apoio para sua campanha eleitoral. Candidato ao Senado, ele teme que Quércia prejudique sua eleição.
A articulação pró-Sarney também ganhou o apoio do governador de Goiás, Iris Rezende, e do líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos.
Barbalho e Iris Rezende integram o chamado "grupo pragmático" do PMDB. Já contam com a velada simpatia do chamado grupo "gaúcho", ligado ao líder do governo no Senado, Pedro Simon (PMDB-RS).
Até o governador paulista, Luiz Antonio Fleury Filho, apóia veladamente a articulação. Mas em encontro recente com o candidato do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, se disse "obrigado a apoiar publicamente" Quércia.
Os "pragmáticos" não têm nenhuma resistência pessoal a Quércia. Estão preocupados com o reflexo em suas campanhas do fraco desempenho do ex-governador nas pesquisas eleitorais.
Na terça-feira, em seu gabinete, Simon discutiu o crescimento de Sarney no PMDB com a cúpula do "grupo gaúcho": o deputado Antônio Britto, candidato ao governo do Rio Grande do Sul, e o senador José Fogaça (PMDB-RS).
A conclusão foi de que o grupo estava derrotado na disputa interna do partido, em nível nacional, e que não poderia apoiar abertamente Sarney. Mas a derrota de Quércia seria bem recebida pelo grupo.
Quércia já notou a articulação e começou a trabalhar contra a realização das prévias no partido. Ele avalia que, na Convenção Nacional, já tem a vitória garantida.
Sarney, ao contrário, avalia que as prévias –que envolvem todos os filiados ao PMDB– lhe dão maior chance de repetir os índices de aceitação das pesquisas eleitorais.
Para evitar, por enquanto, um confronto aberto com Quércia –com quem já fez um acordo de não-agressão dentro do partido– Sarney telefonou para o ex-governador dizendo que não pretende enfrentá-lo na convenção.
Mas o ex-presidente também trabalhou em outra direção. Sua filha, Roseana Sarney, se reuniu duas vezes com o candidato do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, a quem acenou com a possibilidade de uma aliança, caso Sarney derrote Quércia nas prévias.
Enquanto isso, ele próprio tem se dedicado a distribuir a seus colegas de Senado cópias de pesquisas de opinião, nas quais aparece com destaque. Chega a distribuir até mesmo previsões de "bruxos" do Maranhão, indicando sua vitória.
Seu filho, o deputado Sarney Filho (PFL-MA), deixa claro a estratégia do ex-presidente: "Meu pai não tem ambição de voltar a ser presidente. Mas quer ser tratado na campanha com a deferência que os índices das pesquisas eleitorais lhe garantem."

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